A vida das professoras(es), ou quem se importa? Por Walter Takemoto
Pesquisa divulgada sobre o trabalho docente nas escolas públicas brasileiras sobre a violência presente no cotidiano do exercício da profissão demonstra o quanto professoras e professores convivem com o que é comum em toda a sociedade.
De 262 mil professoras e professores do ensino fundamental ouvidos, 22.600 já foram ameaçados e 4.700 sofreram agressões. Vejam bem, a pesquisa foi com o ensino fundamental, não envolveu o ensino …médio.
E na mesma pesquisa se constatou que 184.000 professoras e professores presenciaram agressões entre alunos, física ou verbal. E os profissionais revelam também que já viram armas de fogo, canivetes e facas com estudantes.
A escola por ser parte da sociedade convive no seu interior com todas as contradições sociais presentes nas comunidades em que vivem os estudantes. Por mais que parte dos profissionais do magistério queiram barrar que essas contradições ultrapassem os muros e portões da escola isso não será possível.
O problema grave é que o poder público espera que a escola e seus profissionais resolvam os problemas sociais presentes nas salas de aula, sem que nada façam.
Drogas, violência, gravidez precoce, desemprego, racismo, homofobia, estão nas casas, ruas, locais de trabalho, e vão estar presentes nas escolas e nas relações que nela se estabelecem. O que não pode é o poder público se omitir e colocar sob a responsabilidade dos educadores que solucionem o que não é possível.
Uma correção: disso tudo, parte daqueles que estão no poder, os golpistas, só não querem que a escola trate do racismo, da homofobia, da violência contra a mulher, pois isso lhes interessa que assim permaneça.
E as professoras e os professores continuarão a sofrer com a violência, que recebem ou com as quais convivem nas relações entre os próprios alunos.
E lá, em cada escola e sala de aula, professoras e professores continuarão a exercer suas profissões. Em condições precárias de trabalho, parte também de vida, algumas e alguns insistindo em buscar ser cada vez mais e melhores profissionais, buscando formar com qualidade as crianças, adolescentes e jovens que cruzam seus caminhos.
É preciso se importar com quem temos a responsabilidade de formar. E nesses tempos de obscurantismo, precisamos sim formar as alunas e alunos. Mas precisamos também dizer as(aos) colegas de profissão: urge nos formarmos, pois se eles, os poderosos, não se importam nem conosco e muito menos com os alunos e alunas, nós mesmos devemos cuidar de nós hoje e sempre.
Walter Takemoto é professor