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Aldeia Nagô
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Cultura no plural por Amaranta Cesar

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

João Ubaldo Ribeiro denunciou com
veemência o suposto descaso da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia para com
a conservação da obra de Jorge Amado. Ao fazer a sua denúncia, o escritor
denuncia a si próprio, expondo uma idéia de cultura hierarquizada, que não
parece ser o que a Bahia quer e merece. Ele afirma: "Não digo que, sem Jorge
Amado e Caymmi, a Bahia não existiria. Existiria, sim. Agora, podia ser uma
merda de cidade portuária, sem reconhecimento internacional ". E complementa: «
Na Constituinte de 46, como deputado, Jorge Amado incluiu um artigo para
garantir a liberdade de culto religioso. Se não fosse por ele, o candomblé
continuaria a ser humilhado".


O que se depreende dessa afirmação é uma idéia de
cultura de mão única, que só existe e se legitima pela voz autorizada de
determinados artistas. A Bahia, não apenas território geográfico, é entendida
nas palavras do escritor como produto de determinada genialidade artística. O
"povo" deve passar, assim, a ser devedor tanto das representações culturais (no
sentido simbólico) que o artista faz desse povo, quanto da representação (no
sentido político) que ele assume em seu nome.

Mas o que interessa discutir aqui não é o
quanto a Bahia deve a Jorge Amado enquanto representante (nos dois sentidos da
palavra) do "povo baiano". O que está em questão é a maneira como o escritor
aparece, nas declarações de João Ubaldo, como porta-voz do "povo" e, mais ainda,
como fundador de sua cultura. Terra em Transe, filme de Glauber Rocha, é talvez
o maior exemplo da problematização do que se chamou de "populismo cultural".
Este consiste justamente na maneira paternalista como os artistas se relacionam
com o "povo" – normalmente silenciado -, acreditando em uma suposta convergência
entre os desejos desse povo e a representação que os artistas fazem dele. Essa
visão parecia superada; mas João Ubaldo traz de volta à cena uma hierarquia
cultural que se funda no silenciamento das variadas vozes que compõem a cultura.

O que está em questão agora é justamente
a valorização do povo baiano, do povo negro, do  povo de santo, em toda sua
diversidade, na defesa e construção da sua própria cultura. Ao contrário do que
afirma João Ubaldo, se não fosse por Jorge Amado, o Candomblé continuaria, sim,
lutando para resistir à dominação cultural, como resistiu por centenas de anos e
ainda o faz até hoje.

A descentralização das verbas do Estado
destinadas à cultura é bem-vinda, porque se contrapõe justamente a essa idéia de
"porta-vozes do povo". Já não se admite mais em parte alguma do mundo que as
"minorias" sejam "faladas" por outros. Ninguém duvida da necessidade de
preservação da obra de Jorge Amado. O que não é mais aceitável é que a cultura
da Bahia se resuma a uma "baianidade" fundada por um só grupo de artistas, por
mais internacionalmente reconhecido que ele seja. A "baianidade" deve ser
escrita no plural. Porque cultura é mais do que turismo. Porque cultura é mais
do que uma imagem publicitária. 

Amaranta Cesar. Jornalista, Mestre em
Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA, doutoranda em Cinema e
Audiovisual na Sorbonne Nouvelle.

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