O massacre contínuo da educação na Bahia. Por Marlon Marcos
Em uma análise histórica, em algum momento a educação oficial na Bahia deve ter correspondido minimamente às expectativas do povo de melhorar de vida, a partir da atuação dos sistemas educacionais empreendendo conhecimento, construindo, mais do que profissionais, inteligências. Existo na Bahia há 55 anos e nunca experimentei nenhum projeto educativo, nenhuma política pública favorável à melhoria da qualidade de ensino, nada que implicasse em transformações radicais na maneira de aprender e de ensinar nesse estado. Se um dia a Escola Pública esteve bem, foi porque a mesma educava também os filhos das elites se preparando para dominar política e economicamente a maioria da população.
O tema educação na Bahia é uma calamidade, tanto do ponto de vista municipal, tomando como maior exemplo Salvador, como também o estadual. Há décadas vivemos realidades acachapantes, com políticas educacionais ora eleitoreiras, ora paliativas. Nada vinga como projeto efetivo, vontade política de melhorar, entendimento filosófico e cultural de que a educação é o caminho até para se superar as mazelas do capitalismo.
Os professores da Rede Municipal de Salvador estão em greve, em reinvindicações gerais mais que justas, mas sempre partimos do salário mutilado e humilhante, o que desenha para a sociedade o valor de uso desta categoria tão necessária, para não dizer imprescindível, marcada pela desvalorização contínua, em qualquer instância, da direita, e governamental da esquerda, o que me faz perguntar: o fomento do conhecimento contínua a assustar, na Bahia, os grupos governantes de todas as vertentes? É proveitoso viabilizar, via educação, a mediocridade? É bom deseducar e oferecer em troca muitos shows, Carnaval estendido, muita festa e pouco pão?
O povo deseducado da Bahia aceita em silêncio a venda das áreas verdes restantes da cidade para os tubarões da especulação imobiliária. O que tem existido de natural em nossa terra é o mar, e não sei até quando… O mar gera IPTU? Pensei agora em abismo. A importante vereadora Aladilce Souza (PC do B), impregnada de boa vontade político-educacional, e estou pensando em educação em Salvador, apresentou um projeto cultural, na câmara dos Vereadores, que presta homenagem a Nana Caymmi, criando uma espécie de lugar socioeducativo que favoreça o canto artístico das mulheres nascidas na cidade. A carioca (orgulhosa disso) Nana é enorme. Por que vereadora, a senhora não pensou em Gal Costa, nascida e criada na Bahia até os 20 anos? Gal que foi, como Nana, uma das maiores cantoras do mundo. Por que o silêncio em torno do nome da baiana? A senhora sabe, de fato, o tipo de relação que Nana tinha com a Bahia?
Sobre abismos: não há lugar mais perverso e ingrato de ser baiano do que se nascer e viver na Bahia. Gal foi preterida porque é a voz mais bonita, mas nasceu entre nós.
Marlon Marcos – poeta e antropólogo
Parabéns mais uma vez pela defesa da educação em nosso Estado.
Quanto a Gal(a incomparável) concordo plenamente com você.
Um abraço Roberto Sampaio