Cunha éstá mortalmente ferido. E daí? Por Juca Ferreira
Cunha está mortalmente ferido mas ainda pode causar um grande estrago ao governo e à legalidade democrática. Não vai cair conformado, não parece ser seu perfil, e deve estar a esta altura conspirando com próceres da direita e da oposição.
Talvez até tente não cair e para isso precisa embaralhar o jogo com movimentos fortes. Não imagino como, inclusive porque não estou dedicado às questões do parlamento, mas acho que o governo tem que ir levando-o ao isolamento e fechar as portas com os partido e parlamentares da base, os confiáveis, para todas as possibilidades de um golpe legal. Isso está sendo feito, com erros e acertos.
Acho que avançamos bastante depois da reforma. Não descredenciou os que saíram do núcleo central nem os que deixaram ministérios importantes. O fato de nos movimentarmos e abrirmos diálogos importantes e termos saídos da perplexidade na disputa no parlamento foi o fato mais importante é também porque agora estamos dialogando com os partidos da base. Muitas concessões estão sendo feitas. Não dá para avaliar no conjunto por falta de informação se precisava entregar algumas falanges dos dedos junto com os anéis.
Ainda estamos em uma conjuntura instável onde tudo e todos estão se movendo. Os interesses são muitos: pequenos, médios e grandes, tudo junto e misturado. Depois de um longo período de perplexidade, também o governo e os partidos que dão sustentação ao governo estão se movendo. Sendo mais preciso, era preciso assumir com prioridade a disputa no interior da política institucional e do parlamento e, assim tem sido nos últimos dias. Porém, o mundo é bem maior do que a política institucional e o Brasil é maior do que seu parlamento.
Estamos muito desarticulados na disputa política e ideológica na sociedade: disputa da nossa própria base e disputa da opinião pública.No plano da sociedade, na disputa política mais ampla temos que disputar a opinião pública e recuperar os vínculos enfraquecidos com nossa base. Não podemos esquecer que a economia precisa voltar a crescer para sairmos vitoriosos nessa disputa do que Gramsci caracterizava como disputa pela hegemonia política. Daí vem os maiores desgastes e o grande trunfo político da oposição.
A sociedade está com medo de perder o que conquistou e, paradoxalmente, parte dos que foram benefiados pelas políticas de redução das desigualdades sociais se voltam contra o governo, acreditando na narrativa da direita e da oposição. A oposição e a direita golpista andaram nadando de braçada, enquanto o governo e o PT pareciam barata tonta, e avançaram muito na opinião pública fazendo tábula rasa dos avanços e conquistas sociais arrastando parte da base tradicional do PT e os que elegeram Dilma pela segunda vez.
E, não esqueçamos que, o nível de compreensão política da sociedade brasileira é rasa. A manipulação primária tem funcionado e a disputa tem que ser muito clara e capaz de revelar o que está verdadeiramente em disputa. É preciso que as medidas de contenção de despesas fiquem restritas a esse objetivo e que o governo, insistentemente deixe claro seu compromisso com a sociedade e com a justiça social. Falta narrativa no nosso governo. Precisamos dizer que sociedade queremos e porque estamos lutando e o que significa em termos de retrocesso e o que virá se a direita for bem sucedida no processo de golpe legal.
Está tudo muito confuso, porque o governo não se cansa de emitir sinais trocados, incompreensíveis até para quem é filado ao PT. Precisamos botar na mesa os avanços, as conquistas sociais os erros cometidos nesses quase 12 anos com a coragem e a determinação que o momento exige e precisamos articular um projeto para um novo ciclo de desenvolvendo e novas conquistas sociais.
Hoje temos experiência de governo e podemos construir um Programa e apresentar à sociedade para debater e enriquecer neste processo. Recuar, nem para pegar impulso!Autocrítica e projeto de futuro é o que a sociedade espera de nós.