Aldeia Nagô
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Empreendedorismo esquizóide e oligopólio. Por Rilton Primo 

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

Na atualidade foi aberta uma ampla discussão, que divide opiniões, sobre um fenômeno que pesquisadores têm denominado (i.e., denunciado) como elitismo ou reacionarismo ideológico das camadas componentes da base da pirâmide econômica e seus entornos, os ditos “pobres de direita”, que mal se estabelecem no limiar de ganhar a vida com seu suor e seus pares e já se confundem na defesa intransigente e até fanática de interesses de classe muitas vezes contrários ao seu progresso. 

Por exemplo, passam à oposição sistemática da redistribuição de renda, seja por uma tática ou por quaisquer meios, ou passam a apoiar ativamente grupos que socavam a inclusão socioprodutiva de milhões de trabalhadores e empreendedores sem os quais seus próprios negócios deixam de ser viáveis se não já no primeiro exercício fiscal, na primeira explosão de bolha especulativa dos mercados. 

Democratizar o crédito produtivo através do microcrédito é, na linguagem de alguns analistas, um movimento de empoderamento econômico pelo lado da oferta, diferente das iniciativas de transferências sociais ou crediticias votadas para o consumo (democratização da demanda). Porém, ambos os movimentos são considerados reações naturais aos processos de alta concentração de renda, crédito e poder econômico (maquinário, equipamentos, tecnologia etc.). 

As tendências de concentração são contrárias à democratização (desconcentração/descentralização) na estrutura da economia, e são predominantes nas principais economias capitalistas e no Brasil, em especial, escandalosamente. É através das contradições entre as tendências concorrenciais e monopolísticas do capitalismo que as últimas abrem caminho. 

Têm sido inúmeros os vetores de transição dos regimes concorrenciais aos de concorrência imperfeita, oligopolista, monopolista: barreiras à entrada, informação assimétrica, patentes de tecnologia, diferenciação industrial de processos e produtos, cartelizações dissimuladas, obsolescência programada, fusões e aquisições, captura das agências reguladoras, protecionismo e subsídios nos mercados centrais, fomento à desregulamentação da soberania das economias periféricas, juros perversamente discricionários para fomento industrial de ponta (economia do conhecimento) e a lista poderia seguir por 40 páginas. 

As elites, o capital financeiro e seus políticos apátridas, os oligopólios e seus lugares-tenentes nos palácios presidenciais e ministérios, secretarias e instituições financeiras, regem juridicamente esta concentração crescente, que não interessa à base da pirâmide, que, muito embora, é arrastada – quando menos pelos meios de influência e propaganda nacionais e internacionais – quando já não por incentivos e placebos econômicos transitórios diretos, a defender posturas elitistas, corporificando às vezes um reacionarismo social suicida. 

Partindo do princípio de Paulo Freire segundo o qual quando a educação não é libertadora o sonho do oprimido é ser opressor, qual seria o papel das instituições democratizantes da economia e o papel das esquerdas na orientação do micro e pequeno empreendedorismos? As elites os atraem para o lado delas dia e noite, como se fosse seu plano de negócios natural serem também parte do topo da pirâmide, quando o que seria mais coerente com a democratização econômica é justamente engrossar as camadas intermediárias a partir da base. 

Como diria Rousseau, semelhantes demonstrações, sendo lugares comuns, não iludem ninguém, são cuidados perdidos.

Será que é já chegada a hora de enriquecer este debate complicado e apaixonado, mas útil, se para tanto a dialética aprouver a interlocução oficial, midiática e de trincheiras nas redes sociais, ante um novo ano eletrizado para mais um confronto temerário entre projetos de país em 2026? 

Até quando a democracia das infraestruturas nacionais oscilará entre o empreendedorismo esquizóide e o oligopólio?

Rilton Primo é Economista. Especialista em Ciências Políticas. Mestre e PhD (c) em Engenharia Industrial.

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