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Lava-Jato, do mérito à farsa. Por Cláudio Guedes

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Claudio_Guedes

A prisão do ex-deputado Cândido Vaccarezza, que foi líder do PT nos governos Dilma e Lula, nada tem que ver com justiça. Não que o ex-deputado não possa e não deva ser investigado se suspeitas sobre sua conduta existem. Não se trata disso.

A prisão temporária de alguém que se encontra fora do governo, sequer é mais deputado, por crimes supostamente praticados há sete/cinco anos, é estranha ao CPP brasileiro. Investigue-se, intime-se, processe-se, julgue-se e, se condenado, que o réu cumpra a pena. É este o rito.

Mas não para o juiz de Curitiba, o celebridade, o camisa negra, Sérgio Moro. A prisão foi apenas mais um ato político de um magistrado que usa a toga para atacar, de forma desavergonhada, seus adversários políticos.

A prisão de Vaccarezza foi uma resposta de Sérgio Moro ao início da caravana do ex-presidente Lula pelo Nordeste. Apenas isso. Um ato político para ganhar as manchetes dos jornais e da TV e ensombrar a retomada das ruas pelo líder petista.

Sério Moro e a Operação Lava-Jato são, a cada dia que passa mais claramente, típicos exemplos de como os meios & as mídias hegemônicas, na era das comunicações, suplantam, quando desejam, a verdade dos fatos, criando “pseudo-eventos” a partir da manipulação descarada da realidade.

O próprio juiz foi transformado em celebridade de forma falsa, forçada, e foi desta forma guindado à fama. Tudo fabricado, ainda que de um v-zero real. O figurino de “caçador de corruptos”, exatamente pela sua capacidade de personificar o lugar-comum, de permitir uma conexão primária com o anseio popular contra a chamada “classe política”, coube-lhe na medida. Tal fato, percebido imediatamente por Veja, Globo e Folha, e pelos tenazes tucanos e democratas (ex-PFL), colocou em funcionamento a máquina que transformaria um medíocre juiz de primeira instância no herói da hora.

Herói para quê? Para ser o ariete que precisavam para abalar – e quiça derrubar, como acabou por acontecer – o PT e as suas principais lideranças que, a despeito de tudo e de forma incompreensível à elite endinheirada, vinham, em 2013, a caminho da vitória no pleito presidencial de 2014. Os tucanos tinham sido escolhidos pelos donos do país (a banca, a FIESP, o Grupo Globo, a Folha, o Estadão, as federações comerciais) para encerrarem, ao fim do primeiro mandato de Dilma Roussef, o ciclo petista no país. Saíram em chapa única. Foram, liderados pela dupla Aécio Neves e Aloysio Nunes, incompetentes e morreram na praia – um longo areal de mais de 3 milhões de votos.

Com a derrota eleitoral, a necessidade do braço da justiça ser fortalecido contra os vitoriosos de 2014 se tornou ainda mais necessário. As operações da força-tarefa de Curitiba se intensificaram, a associação bizarra entre Ministério Público, Polícia Federal e o Juiz Sérgio Moro foi fortalecida e a ele foi dada a missão: minar Dilma, a presidente eleita, cercando e intimidando seus colaboradores, e eliminar Lula, o forte candidato à sucessão desta em 2018.

Passou a valer de tudo. Delações aceitas sem qualquer critério, prisões preventivas de suspeitos por meses e anos – contanto que ao final se obtivessem acusações contra os petistas – e inquéritos forjados à margem de qualquer bom-senso jurídico contra o ex-presidente Lula. Em paralelo, foram praticamente abandonadas linhas de investigação promissoras, reveladas no próprio âmbito da Lava Jato, contra tucanos e peemedebistas.

Sérgio Moro e a força-tarefa da Lava-Jato, do mérito inicial de conduzirem uma investigação sobre corrupção estatal/política, identificando problemas estruturais no funcionamento do sistema de financiamento de partidos, eleições e políticos, transformaram-se com o tempo em um instrumento de luta política com o objetivo único (os outros perseguidos, poucos, são apenas disfarces para assegurar algum caráter republicano às ações) de golpear o PT e de excluir Lula da vida pública brasileira.

Sérgio Moro, um juiz de província, tornado celebridade por estar na hora certa e no lugar certo para servir ao sistema político dominante – hegemônico no país há muitas décadas e levemente abalado, apenas levemente, no ciclo petista de 2003-2015 -, é apenas um personagem transitório.

Como tantos outros juízes/juristas (sic) que no passado recente serviram aos poderosos da nação é apenas um descartável. Receberá algumas migalhas quando completar a sua missão. E quanto à Operação Lava-Jato: do mérito inicial pouco lhe restou, a farsa passou a tudo dominar.

Cláudio Guedes é professsor e empresário

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