Não há nenhum processo de combate à corrupção no Brasil.. Por Gabriel Oliveira
A Operação Lava Jato até poderia ser, pelos elementos que tem, por tudo o que já investigou e descobriu. Mas não é. A Operação é até aqui apenas uma ilusão de ótica.
Na verdade, não importam as delações, não importam os potencialmente envolvidos, não importa os recursos públicos desviados.
O que importa na Operação é qualquer coisa que sirva indício para levar a algum rastro do PT e do governo.
O resto é completamente ignorado, sem nenhuma cerimônia.
Logo, não há combate à corrupção. Há combate a um setor político, fragilizado pelos erros que cometeu e alvo preferencial dos mesmos segmentos que, apesar de não estarem sentados na mesa da presidência da república, são proprietários seculares do Estado brasileiro.
A isso costuma-se dar o nome de estado de “exceção”.
Uma miragem chamada Lava Jato em nome da qual são construídas mobilizações sociais capitaneados por exatamente os mesmos partidos e pessoas que sobrevivem há décadas da corrupção endêmica do sistema político brasileiro.
Mobilizações de ~indignação~ capitaneadas por um senador, ex-governador e ex-candidato à presidência tetra-delatado na mesma operação. E também por ela ignorado.
Aliás, veja o movimento do PMDB nos últimos dias visando se desembaraçar do governo.
Os mais importantes quadros do partido estão envolvidos e denunciados. E hoje a maior chance que eles têm de se livrarem de um desfecho entre grades e sol quadrado é, adivinhem só, derrubar a presidenta.
E em nome disso já se movimentam fora das cortinas com o DEM e o PSDB para viabilizar o impeachment no Congresso.
Funesto.
A corrupção é um componente tão profundo do sistema político brasileiro, que a maior atingida pela crise pode ser a presidenta menos conivente com a corrupção da história do Brasil.
Em outras palavras, uma crise criada por corruptos, em nome do combate à corrupção, para derrubar a menos corrupta.
É assim que funciona no deserto da política brasileira.
Diante da agonia insurportável de sede por justiça, bastam algumas manchetes para produzir uma linda miragem.
E distante dali, os verdadeiros sheiks descansam impávidos nos seus seus oásis de águas fartas, enquanto tentam matar de inanição a possibilidade mais real que já tivemos na história… de construir outra história.
Dá um Oscar de melhor roteiro original para quem escreveu essa tragédia.