O amor é silencioso, age em silêncio…Por Jean Wyllys
Certa vez, numa entrevista – acho que para o Rafinha Bastos, se não me falha a memória – eu disse, acerca da expressão do ódio nas redes sociais e nas ruas, quenão nos deixássemos enganar por isso porque o ódio é sempre motivado e diligente, ao passo que o amor é silencioso, age em silêncio…
A vida me deu, hoje, mais uma prova de que tenho razão.
No primeiro trecho – encerrado há pouco – dessa minha viagem de retorno ao Brasil (de Montevidéu, Uruguai, para Santiago, Chile, onde faço conexão), já próximo da descida, eu acionei o serviço de bordo da LAM porque precisava de água. Uma gripe quer se instalar em mim e eu preciso resistir à doença. Veio uma comissária jovem, bonita e simpática que me perguntou, em espanhol, o que eu desejava. “Água”, eu disse. Ele abriu um sorriso, saiu e em menos de um minuto retornou com a água. “Gracias!”, agradeci.
Pouco depois, ela voltou e me perguntou – agora em português – “Você é Jean Wyllys?”. “Sim, sou”, respondi. E então ela me entregou um pacotinho cinza e saiu de imediato. Eram bombons, um presente improvisado às pressas. Então, notei que, no pacote, estava escrito em letra de forma: “Obrigada por tudo. De uma brasileira ainda orgulhosa do nosso Brasil por pessoas como você!”.
Cansado da lida, preocupado, corrido, surrado, batido dos dias meus, desses últimos dias de batalha contra o ódio e a ignorância, ao ler essa mensagem eu desabei num choro convulsivo, para constrangimento de uns e compaixão de outros que estavam próximos.
Na saída, lá estava ela à minha espera. Bruna é seu nome. Aguardava-me com uma garrafa de vinho dessa vez. Abraçou-me apressada, mas também apertadamente e me pediu uma foto. Eu também registrei o momento. E segui, ainda choroso.
É isso: o amor se manifesta menos nas redes sociais, mas não quer dizer que ele não exista fora delas; não significa que não vigore em silêncio.
Mais cedo, em conversa privada com um amigo cheio de pessimismo e desesperança em relação ao futuro de um país cujos democracia, estado de direito e relações sociais se encontram ameaçados pelo aparente triunfo do banditismo, da estupidez motivada e do fascismo, eu lhe disse que não se desesperasse; que acreditasse na resistência; que a resistência é como o amor: melhor que a esperança.
Se a esperança é a última que morre, a resistência é, como o amor, imortal e pode aparecer onde ninguém ousaria supor e se pôr.
Obrigado, Bruna. Estamos juntos!