O Futebol como Metáfora por Dante Lucchesi
A escolha de Dunga como novo técnico da seleção brasileira, após a escolha de Gilmar Rinaldi, empresário de jogadores e agente da FIFA, para coordenador de seleções, é uma afronta à opinião pública brasileira, tendo em vista as premente
necessidade de mudança evidenciada pela desmoralizante derrota para Alemanha, exatamente na última Copa realizada aqui – o maior vexame de toda história do futebol brasileiro. Assim, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, atual e futuro presidente da entidade que controla o futebol no país não ligam nem apara as aparências, e nem sequer adotam o princípio, magistralmente sintetizado por Tomasi de Lampedusa, de que “as coisas precisam mudar para permanecer exatamente como estão”. Parece até que essa máfia que comanda a CBF quer mostrar urbe et orbi que, além de se locupletar com um grande patrimônio público, o futebol brasileiro, eles podem fazer o que bem entendem, sem prestar contas a ninguém, esculachando impunemente o maior esporte de massas do país. Dizem que o governo nada pode fazer, pois a CBF é uma entidade privada, não valendo para ela os princípios da transparência, publicidade e impessoalidade que regem a administração pública. É esse o resultado da privatização do futebol brasileiro – e é preciso que isso fique bem claro, sobretudo para aqueles que ainda veem a privatização como panaceia da má gestão.
Trata-se, portanto, de mais um retrato do poder real no Brasil: as máfias que controlam o Congresso Nacional, os meios de comunicação de massa, o poder judiciário, as licitações públicas, etc. Sim, porque, se os estádios da Copa foram superfaturados, os maiores beneficiados foram as grandes empreiteiras, que definem previamente o resultado das licitações. Esse grandes grupos econômicos é que são os grandes parasitas da nação, que dilapidam o patrimônio público e vão desfrutar o butim do assalto ao Estado brasileiro, em paraísos burgueses, como Miami e Mônaco.
A história espoliativa de mais de 500 anos, que se iniciou com a colonização portuguesa da nação tupinambá, prossegue em seu curso macabro. O que se passa com o futebol torna-se, assim, a grande metáfora de um país refém de seu triste destino, controlado pelas máfias dos grandes grupos econômicos, que, acintosamente e sem mais qualquer escrúpulo ou pudor, fazem prevalecer seus interesses privados, em detrimento dos anseios do país e do seu povo, restando a este apenas o desencanto, a desilusão, a desesperança, diante do escárnio e do fausto dos poderosos.