O Poeta do Povo. Por Carlos Pronzato
Portugal e o mundo comemoram os 500 anos de Luís Vaz de Camões. Embora não se tenha certeza da data e local do nascimento do autor desse monumento literário intitulado Os Lusíadas, num imbrincado labirinto de dúvidas historiográficas sobre os principais episódios da sua vida, se convencionou Lisboa como o berço (concorrem também Coimbra, Alenquer, Évora e Santarém) e 1524 como a dedução mais acertada até o momento. Sobre os pais, há concordância na sua procedência da Galícia (família Vaz). Outro ponto incerto, entre os estudiosos da sua obra, é a sua estada no Norte de África, Ceuta, possivelmente em serviço militar. Também a sua estada em Macau é considerada incerta, não há documentação sobre isto, embora se saiba da sua provável partida de Goa para o Mar do Sul em 1556, segundo testemunho de contemporâneos. Já a partida para Índia é considerada certa, onde se presume que tenha participado de ações militares e onde deseja viver a aventura dos navegadores para que o seu Poema pudesse narrar as verdades por ele mesmo vividas. Regressa na armada que saiu para o Reino em 1569, tendo chegado em 1570. A sua prisão, após uma rixa em que feriu um encarregado da Casa Real, em 1552 (ficou quase um ano preso) está documentada. Já a perda do olho, que viria a ser a marca imagética dos seus retratos, sofrida em serviço militar, é confirmada no retrato assinado por Fernando Gomes, sem data, onde se lê: “o único a ser tirado do natural”, e o olho em falta é o direito. Finalmente Os Lusíadas recebe autorização para ser impresso graças a D. Sebastião por intercessão de D. Manuel, em 1572, após o exame da “Mesa do Conselho Geral do Santo Ofício da Inquisição” que deu parecer favorável. O pouco que se sabe da sua vida após a publicação é que em 1576 publica mais duas obras, e falece, possivelmente em 1580 (talvez da peste que grassava em Lisboa) em local ignorado, com menos de 60 anos. É pouco provável que o mosteiro dos Jerónimos, contenha a sua ossada.
Como acontece em quase todo o mundo, os ícones deslumbrantes de um povo, os máximos tradutores da sua cultura são geralmente apropriados pelos conservadores, pela direita. O Partido Comunista Português colocou as coisas no seu devido lugar ao iniciar as comemorações do quinto centenário do poeta do povo e da pátria, denunciando a manipulação e instrumentalização da obra camoniana pelo fascismo que, procurando cobertura ideológica ao seu regime opressivo, a utilizou como instrumento de propaganda. E ainda hoje, diz bem o PCP: “esta obra é utilizada por aqueles que pretendem fazer do quinto centenário palco para a promoção de concepções retrógradas, reacionárias, chauvinistas, racistas, xenófobas e neocolonialistas”.
Carlos Pronzato
Cineasta, diretor teatral, poeta e escritor
Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB)
carlospronzato@gmail.com