Pesquisa ou campanha? O mercado, a Genial/Quaest e o cerco ao governo Lula. Por José Américo Moreira da Silva
A quem serve a pesquisa divulgada esta semana? Ao povo ou ao mercado? A nova pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta semana não revela, necessariamente, a opinião do povo brasileiro. Ela expressa, sim, a insatisfação da elite econômica com um governo que ousa governar para os de baixo. E quando um levantamento de opinião pública reflete mais os interesses de quem o encomenda do que o sentimento real das ruas, ele deixa de ser retrato da sociedade e vira instrumento de pressão.
Uma elite incomodada com o governo popular O presidente Lula vem enfrentando, desde o início de seu mandato, uma resistência feroz de setores que sempre dominaram o Brasil: bancos, grandes grupos empresariais e parte significativa da mídia tradicional. Esses setores, que compõem o chamado “mercado”, se acostumaram a dar as cartas — e agora se sentem ameaçados por um governo que tenta reverter privilégios históricos e redistribuir oportunidades.
Quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propôs aumentar o IOF, por exemplo, a reação foi imediata e virulenta. Por quê? Porque o IOF atinge diretamente os grandes negócios e os milionários. O pobre não paga IOF. Quem paga é o topo da pirâmide. Mas a gritaria foi tamanha que parecia um crime o Estado querer cobrar imposto dos mais ricos.
A farsa silenciosa das renúncias fiscais O Brasil concede hoje mais de R$ 800 bilhões por ano em isenções e renúncias fiscais. Quem se beneficia disso? O pequeno agricultor? A dona de casa? O trabalhador informal? Não. Os grandes conglomerados empresariais, muitos dos quais financiam campanhas políticas, mantêm lobbies poderosos no Congresso e agora querem usar as pesquisas como arma para desestabilizar um governo que ousa mexer em seus privilégios.
Genial e Quaest: independentes ou interessadas? Não se trata de atacar a credibilidade técnica dos institutos, mas de levantar um ponto crucial: quem paga pela pesquisa? A Genial é uma corretora de investimentos, ligada diretamente ao mercado financeiro. A Quaest executa pesquisas por encomenda — como qualquer empresa de serviços. Logo, é legítimo perguntar: a quem serve essa pesquisa?
Se o contratante tem interesses políticos ou econômicos, é natural que o recorte feito, o tom das perguntas, o momento da divulgação e a forma como os dados são apresentados ajudem a construir uma determinada narrativa. E essa narrativa, no caso, é de desconfiança e desgaste do governo junto à opinião pública.
O povo sabe quem está do seu lado Na vida real, quem anda pelas ruas, visita as periferias e conversa com o povo simples sabe o que está acontecendo. O Brasil voltou a respirar. O Bolsa Família está funcionando. O salário mínimo está sendo valorizado. Programas sociais foram retomados. O desespero que dominava os lares pobres no governo passado começou a ser enfrentado. E isso o povo reconhece.
Mas essa realidade não interessa à elite, que agora usa pesquisas para tentar reverter a maré política. É a velha tática de criar clima de instabilidade para forçar o governo a recuar.
Hora de enfrentar o debate com coragem O governo Lula precisa entender que essa não é uma disputa apenas de números. É uma batalha política, ideológica e comunicacional. Não dá mais para tratar certas pesquisas como neutras. É preciso questionar quem está por trás, quem financia e com que propósito.
Ao mesmo tempo, é hora de escancarar os privilégios da elite brasileira: os supersalários, as isenções fiscais bilionárias, a blindagem das grandes fortunas, o lobby das bets e a captura do Estado por interesses privados.
Pesquisa é importante. Mas o povo importa mais A democracia precisa de institutos de pesquisa sérios e transparentes. Mas não pode aceitar que levantamentos financiados por interessesh econômicos específicos sejam tratados como verdades absolutas. A pesquisa pode ter método, mas seu uso tem ideologia. E no Brasil de hoje, a ideologia do mercado é manter tudo como sempre foi: rico ficando mais rico e pobre calado.
O governo popular precisa, mais do que nunca, de comunicação firme e corajosa. Não para negar dados, mas para disputar narrativas. Porque a opinião do povo vale mais do que qualquer número manipulado por quem tem medo de perder o controle.
José Américo Moreira da Silva é jornalista, publicitário, baiano radicado em Brasíli