Salve Santa Bárbara! Salve Iansã! Epahey Oyá! Por Renato Queiróz
Salve Santa Bárbara! Salve Iansã! Epahey Oyá!
Bárbara de Nicomédia (c. 280 – c. 317) foi uma mártir do século III, venerada como santa na Igreja Católica Romana e na Igreja Ortodoxa. Nascida em Nicomédia, atual İzmit, na Turquia.
Senta que lá vem História!
Em uma época distante, no coração da antiga Nicomédia, nasceu Bárbara, uma jovem de beleza e espírito inigualáveis. Filha única de Dióscoro, um nobre severo e protetor, Bárbara foi trancada em uma torre, isolada do mundo exterior. Seu pai, temendo a corrupção da sociedade, acreditava que assim a manteria segura. No entanto, foi nesse isolamento que Bárbara encontrou a luz do cristianismo, abraçando uma fé que mudaria seu destino para sempre.
A descoberta de sua conversão enfureceu Dióscoro, que, em um ato de traição e desespero, entregou sua própria filha às autoridades romanas. Bárbara foi submetida a torturas inimagináveis, mas sua fé permaneceu inabalável. No final, foi decapitada por volta do ano 317. Uma lenda conta que seu pai, ao retornar para casa, foi atingido por um raio, um sinal divino da justiça celestial.
Séculos se passaram, e a história de Santa Bárbara cruzou oceanos, chegando ao Brasil, onde encontrou um novo lar na Bahia. Sua figura se entrelaçou com a de Iansã, a poderosa orixá dos ventos e tempestades. Iansã, também conhecida como Oyá, é uma guerreira destemida, reverenciada por sua força, coragem e a luta pela liberdade.
Na tradição iorubá, Oyá é o nome original da orixá, enquanto o termo “Iansã” deriva de “Ìyámésàn,” que significa “mãe transformada em nove”. Esse nome está relacionado a um mito em que Oyá, após uma luta, foi esquartejada em nove partes, simbolizando a sua multiplicidade e capacidade de estar presente em diferentes lugares ao mesmo tempo.
O nome também é interpretado como “mãe do céu rosado” ou “mãe do entardecer”, refletindo sua associação com o pôr do sol e os fenômenos naturais que ocorrem nesse período.
A sincretização entre Santa Bárbara e Iansã/Oyá criou uma devoção única, rica em simbolismo e fé.
Na Bahia, o dia 4 de dezembro é marcado por uma celebração vibrante. As ruas do Centro Histórico de Salvador se transformam em um mar de vermelho e branco, as cores de Santa Bárbara e Iansã. Procissões, missas, rituais, danças e comidas típicas enchem o ar com um espírito de devoção e alegria. Os fiéis, vestidos em trajes coloridos, entoam cânticos e saudações: “Salve Santa Bárbara!”; “Salve Iansã!”; “Epahey Oyá!”.
Santa Bárbara é invocada como protetora contra tempestades, raios e trovões, sendo a padroeira dos bombeiros, mineiros e todos que trabalham com fogo. Sua imagem, também, é comum em mercados e feiras, onde comerciantes pedem sua proteção para seus negócios. Em muitas cidades, bombeiros celebram em sua honra, agradecendo por sua intercessão em momentos de perigo.
A devoção a Santa Bárbara e Iansã/Oyá no Brasil reflete a fusão de tradições católicas e africanas, criando uma herança cultural rica e diversa. A saudação “Salve Santa Bárbara! Epahey Oyá!” expressa reverência e devoção, reconhecendo a força dessas figuras sagradas.
As histórias de Santa Bárbara e Iansã/Oyá destacam a força indomável das mulheres, inspirando-nos a resistir e lutar por nossos direitos com coragem e determinação.
Bárbara, com sua fé inabalável, simboliza a luta contra as adversidades, enquanto Oyá, senhora dos ventos e raios, transforma e renova tudo ao seu redor. Juntas, elas representam a essência da resistência e da mudança, lembrando-nos de valorizar o poder, a resiliência e a luta pela liberdade em todas as esferas da vida.
A música “A Dona do Raio e do Vento” de Paulo César Pinheiro e Pedro Caminha, e interpretada por Maria Bethânia, é uma homenagem a Iansã e Santa Bárbara. A canção celebra a força e a proteção desses ícones sagrados, destacando sua importância na cultura e na espiritualidade brasileira. Bethânia, conhecida por sua profunda conexão com a música e a religiosidade, traz uma interpretação poderosa que ressoa com a devoção dos fiéis.
SONZAÇO!
Renato Queiroz é professor, compositor, poeta e um apaixonado pela história da música,.