Aldeia Nagô
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Sobre professor, eleição e sindicato. Por Walter Tekemoto

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Walter-Takemoto

Encontrei uma professora por acaso e ela me cumprimentou e a primeira pergunta que fez foi: – E ai, quando começa a campanha?

Sem entender, respondi:

– Que campanha?

E ela emendou:

– A sua campanha para vereador, quero fazer campanha e votar em você!

Se referia a professora ao que é comum para muitos e muitas: a pessoa que milita no movimento social será candidato a algum cargo eletivo.

Respondi a ela que não sou candidato a nada, que quero apenas continuar fazendo o que sempre fiz, que é militar pelas causas que considero justas. E ela retrucou que eu devia ser candidato, pois é importante ter um educador na câmara municipal para defender os professores.

E é justamente esse argumento da professora e amiga que quero tratar aqui.

Desde quando os professores precisam de um professor na câmara para defender seus interesses?

Precisam os professores, assim como todos os trabalhadores, descobrirem de uma vez por todas que o fundamental é terem organização, formação e capacidade de lutarem por suas profissões, valorização profissional, um projeto educacional que garanta escola pública de qualidade para todos e todas, e que coloque os profissionais do magistério ao lado de todos os demais trabalhadores em condições de realizarem as transformações que são fundamentais de acontecerem na cidade, no estado e no país.

Não podem os professores reproduzirem a crença de que é importante eleger um vereador, prefeito, governador ou presidente, sem que a categoria do magistério seja protagonista de seu próprio fazer cotidiano como sujeito e das suas lutas como categoria, e ao lado de todos os trabalhadores como classe.

Da mesma forma que nada representa eleger um vereador, nada representa eleger uma diretoria sindical de professores sem que a categoria seja capaz de impedir que os professores que estejam a frente do sindicato não represente efetivamente os interesses do magistério, como ocorre, por exemplo, aqui em Salvador.

Se uma diretoria sindical composta de professores muitas vezes abandona os interesses da categoria para se aliar ao prefeito, o que dirá um vereador que não tem a mesma proximidade com os seus eleitores que tem um sindicato?

Em uma conjuntura em que o país se encontra ameaçado por um golpe que pretende retirar dos trabalhadores direitos sociais e trabalhistas históricos, que a educação pública, da creche a universidade, corre o risco de perder o pouco que tem de orçamento das três instâncias de governo, a prioridade jamais poderá ser eleger um ou outro vereador, seja de que categoria for.

Em Salvador os professores possuem um enorme desafio que é organizar escola por escola, construir uma poderosa organização de base que construa um sindicato verdadeiramente comprometido com os interesses dos profissionais da educação e dos estudantes, que não permita que o prefeito ACM Neto, ou qualquer outro, destrua a escola pública e continue mantendo as crianças, adolescentes e jovens da periferia em um processo permanente de exclusão e perda de direitos.

E essa tarefa não tem vereador, partido ou prefeito que possa fazer, pois é uma tarefa histórica que só os trabalhadores da educação poderão realizar, e ninguém mais.

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