Aldeia Nagô
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Terceirização avança mas perde apoio por Ernesto Marques

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Errou quem apostou no recuo de Eduardo Cunha, semana passada, como sinal positivo da repercussão das manifestações convocadas pelas centrais sindicais.

Cunha mais uma vez usou a mão pesada de presidente para julgar prejudicado o destaque articulado pela bancada do PT, por causa da aprovação de uma emenda aglutinativa do PMDB do articulador político do governo, o vice-presidente Michel Temer. Cunha impôs mais uma derrota ao PT e ao governo, mas o placar bem diferente da votação da semana passada, mostra a perda de apoios à proposta. Houve 26 votos a menos (463 contra 437, na sessão de ontem) e a diferença em favor da terceirização caiu de 187 (324 a 137) para apenas 27 votos (230 a 203) e houve apenas duas abstenções a mais. 
A bancada baiana se destacou pela mudança de posição: em vez do placar de 22 a 14 da semana passada, em favor da terceirização, a tal emenda aglutinativa teve 14 votos a favor, 15 contrários e 10 ausentes, entre eles Lúcio Vieira Lima, único peemedebista baiano. Apenas Jonga Bacelar (PR), entre a base aliada do governador Rui Costa, mudou a casaca agora é a favor do PL 4330. Movimento oposto fizeram Irmão Lázaro e Erivelton Santana, ambos de PSC, e Fernando Torres, do PSD. O partido do senador Otto Alencar aliviou a traição com as ausências de José Nunes e Sérgio Brito e os votos contrários à proposta de Torres (votou a favor, antes) e de Paulo Magalhães, ausente na votação anterior. 

O surto saudosista dos neo-companheiros, todos muito bem aquinhoados em cargos federais e estaduais, foi contido pela pressão crescente das centrais sindicais e movimentos sociais. Serviu ao menos para dar um susto na articulação política do Palácio de Ondina e promover conversas ao pé do ouvido sempre eficientes em se tratando de monoglotas limitados ao “fisiologês” tradicional.

Sair da política para entrar na história

Muito mais do que a consciência, pesou mesmo na mudança de posição, o medo de perder votos diante da campanha massiva dos ativistas que denunciam os “ladrões de direitos” ou “traidores da classe trabalhadora” com nome e santinho de quem apoiar a terceirização. Animado com a súbita notoriedade nacional, o voluntarioso relator da matéria, com passagens em pelo menos 3 partidos, desde o início da carreira (PSDB, PMDB e agora o Solidariedade).

Maia é jovem, extremamente vaidoso e acalenta sonhos mais ambiciosos. Conquistou a simpatia do goiano Sandro Mabel, autor do PL 4330, quando ousou peitar os irmãos Lúcio e Geddel Vieira Lima, em 2007. A família que dirige o PMDB com mãos de ferro apoiava Eduardo Cunha para liderar a bancada, enquanto Maia queria Mabel, e mais: queria dividir o poder no partido. Queixou-se publicamente do mandonismo dos irmãos, resistentes à ideia de eleger a direção numa convenção partidária. Sandro Mabel alardeava ter garantido o apoio de 42 dos 78 peemedebistas, cogitando alcançar 49. Maia acreditou, apostou a ponto de dar uma declaração, na época, muito elucidadora sobre o pai da terceirização irrestrita: “ele tem lado, é vinculado, tendo construído sua história na iniciativa privada”. Apostou alto e perdeu a condição de continuar no PMDB quando foi contra a participação no governo ACM Neto e soube pela imprensa da nomeação do primeiro escalão da Prefeitura de Salvador. Restou-lhe pular mais uma vez de partido, abrigando-se no Solidariedade.

“Saio da vida para entrar na história”, escreveu Getúlio Vargas, o criador da CLT, em sua carta-testamento antes de disparar o tiro que lhe tirou a vida e livrou o Brasil do golpe urdido por civis liderados por Carlos Lacerda e militares que seriam destacados quadros da ditadura pós-1964. Como os mais de 95 mil votos depositados em Arthur Maia em 2014 são de potenciais vítimas da terceirização, é de se esperar o troco dos eleitores. Do vasto legado de Vargas, a CLT talvez seja o feito mais lembrado pelo povo brasileiro, pelo que significou em termos de avanço civilizatório para o Brasil agrário de então, que ainda preserva a tradição escravagista em rincões como as bases eleitorais do mutante partidário. Se tal ocorrer, terá cometido suicídio político ao abraçar o PL 4330. Tão jovem, poderia encontrar uma maneira mais edificante de sair da política para entrar na história como o dedicado carrasco da CLT que se gaba de “dar risadas” dos sindicalistas opositores da terceirização.

Artigo publicado originalmente em http://www.trabalhadordanoticia.com.br/2015/04/terceirizacao-avanca-mas-perde-apoios.html

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