Uma no cravo. Por Wilson Gomes
Não sei exatamente por que vocês ficam impressionados com as pessoas que dizem que “não, não é golpe” e que até ficam ofendidos por você imaginá-las golpistas. Quando não foi assim no Brasil?
Getúlio Vargas formou uma aliança e aplicou um golpe de Estado com todas as letras em 1937? O ditador e os seus aliados se consideraram golpistas? Qual o quê? Para todos os efeitos, era para se dizer que estava inaugurando ali um novo regime político, um Estado Novo, a Terceira República Brasileira. E o que tem de gente, de todas as cores ideológicas, que até hoje o tem num panteão, é coisa que me impressiona. Como assim, Getúlio, o estadista, o pai dos pobres, golpista? Aqui não, neném.
Em 1964, aconteceu de novo, e agora não apenas “manu militari”, mas com protagonismo de quepes e coturnos, como era a modinha de então na América Latina. Assumiram que era golpe? Rá. Está maluco? Foi uma Revolução. Golpistas, não Senhor, “revolucionários”. Demorou 20 anos para que alguém pudesse, impunemente, chamar o golpe e os golpistas pelo nome próprio. 20 anos! Para que a Globo assumisse que houve golpe, ditadura e brutalidade e para que colocasse, de forma relutante, o seu nome na lista dos responsáveis, demorou pelo menos mais 20.
Por que em 2016 deveria ser diferente? Não é golpe, estamos consertando o Brasil. Estamos inaugurando a Quinta República (a Nova foi a de Sarney, desculpem), estamos passando o Brasil a limpo, estamos varrendo a corrupção deste país, estamos acabando com a baderna. Conspiradores? Usurpadores do Voto Popular? Sanguessugas da Democracia? Golpistas? Nada disso, fanático marxista tresloucado, estamos fazendo tudo isso por você, pela virtude, pelos princípios. E vão se preparando para ouvir, por mais umas décadas, as Globos repetindo o mantra “o impeachment que os aliados do governo do PT chamam de golpe”.
Nada de novo sob o sol. The same old thing.