Vvia o 2 de Julho (Volume 193). Por Franciel Cruz
Toda província que se preze se recusa, de forma intransigente, a ser chamada pelo seu verdadeiro nome. Aliás, não há nada mais desmoralizante para uma cidade pequena do que acusá-la de …cidade pequena.
Qualquer buraco no meio do nada aceita todo tipo de xingamento – menos este. E, quando acontece tal descortesia, é um alvoroço dos diabos. Juntam-se todos. Padre, pai-de-santo, juiz, radialista, prefeito e oposição largam seus fundamentais afazeres para defender a honra do amado torrão natal.
Para comprovar a validade de tal complexo de inferioridade, poderia citar uma série de pensadores e/ou enganadores, o que dá no mesmo. Porém, garanto que basta o testemunho deste locutor que vos aborrece, pois falo com a autoridade de quem nasceu numa encruzilhada entre o Piemonte da Chapada Diamantina e o Sertão baiano, numa destas típicas cidadezinhas. Irecê é uma desgraça, mas não é cidade pequena, não, rebain de intrigueiros.
Pois muito bem. Ia tentando prosseguir nesta erudita linha de raciocínio, quando uma impaciente ouvinte, que chegou aqui por causa do título (VIVA O 2 DE JULHO), questionou o que os festejos pela Independência da Brasil, do Mundo e da Bahia tem a ver com esta ladainha acima.
Já explico. O seguinte é este, minha comadre.
Todos os anos, na referida e heroica data, Salvador consegue uma proeza admirável. Assume, sem nenhum pudor, sua vocação provinciana. A grande e desengonçada cidade da Bahia vira uma réplica de Sucupira, com suas delícias e defeitos. E uma multidão de Nezinhos do Jegue protesta e bajula os políticos; as casas são enfeitadas; fanfarras e bêbados fazem zoadas; a fofocaria e o foguetório tomam conta das ruas e perdemos a vergonha de sermos uma…cidade pequena, invertendo o tal complexo de inferioridade.
Óbvio que se deve respeitar, lembrar e louvar sempre as sangrentas e importantes lutas que resultaram na Independência da Bahia.
Porém, há muito tempo, o que mais me comove nestas comemorações, é que Salvador parece compreender o ensinamento de que o pior tipo de provincianismo é o que se pretende cosmopolita.
E, de forma triunfante, Soterópolis assume toda a sua jequice e grita “VIVA O 2 DE JULHO”!
P.S Foto Ascom Pelourinho no exato momento da chegada dos briosa Cabocla