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A benevolência com os mortos. Por Moisés Mendes
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Cultura
Qui, 16 de Abril de 2020 07:10
Moises_MendesDos mortos, que só se fale de bem. Ou no original em latim: "De mortuis nihil nisi bonum".

A frase, sempre repetida nas tentativas de proteger algum morto exposto a controvérsias, seria de Quilão de Esparta, um dos sete sábios da Grécia.

Pois morreu Rubem Fonseca, um dos maiores escritores brasileiros, mas também um dos intelectuais formuladores da retórica que disseminou, por panfletagem disfarçada de reflexão, o terror anticomunista na ditadura.

Só vão falar coisas boas de Fonseca, porque foi de fato um dos grandes. Mas não dá pra esquecer a face sombria de quem ajudou os militares e os empresários a organizarem a propaganda do autoritarismo.

Como o momento é muito semelhante ao de um tempo sombrio que vivemos no século passado, republico abaixo um texto que publiquei dia 9 de fevereiro aqui no blog, quando a obra de Fonseca foi censurada pelo bolsonarismo em Rondônia.

RUBEM FONSECA E OLAVO DE CARVALHO

O escritor Rubem Fonseca, autor de 18 dos 43 livros considerados perigosos pelo governo de Rondônia, trabalhou para a ditadura. E trabalhou muito, em tempos analógicos, numa área muito cara hoje aos tempos virtuais da propaganda do bolsonarismo.

Fonseca fazia propaganda. Produzia textos para o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, o IPES, uma organização mantida pelo alto empresariado. Ajudava a disseminar orientação ideológica misturada a informações que induziam a população ao terror e ao pânico.

Se os milicos não agissem, o comunismo tomaria conta do Estado, das propriedades e das vidas. Fonseca era muito ligado ao poderoso Golbery do Couto e Silva e respeitado pela capacidade de instigar e refletir como antiesquerdista. E já naquele tempo, como ficcionista, também foi censurado por seus antigos amigos de golpe.

Hoje, as estruturas do bolsonarismo dispensam essa sofisticação. Em substituição aos intelectuais reacionários requisitados pelos militares para produzir pregações com algum fundamento, hoje temos os amigos do Carluxo trabalhando na disseminação de fake news e besteiras.

Estão certos os que disserem que Fonseca foi um grande escritor, com texto cortante, talvez o mais afiado da literatura realista de exposição da violência dos anos 70. A escrita seca e a narrativa direta fizeram escola, principalmente em contos.

'Feliz Ano Novo' e 'Lúcia McCartney' são livros decisivos para a compreensão de um tempo em que a bandidagem, os bacanas e as ditas deformações sociais tinham outro perfil. É literatura de primeira. Em 1994, a Companhia das Letras reuniu suas histórias curtas na antologia Contos Reunidos.

Os milicos gostavam de Rubem Fonseca como colaborador anticomunista (também foi delegado), mas não como escritor, porque o consideravam um depravado interessado apenas em assassinatos, sangue, sexo e misérias humanas. O bolsonarismo o trata agora da mesma forma.

A extrema direita não faz concessões aos seus, quando se sente ameaçada por expressões que não controla, como a arte que contradiz ideologias. Fonseca era um funcionário prestativo pró-ditadura, mas transgressor como artista.

Uma grande diferença entre a turma que trabalhou com certa discrição para a extrema direita lá nos anos 60 e 70 é que os milicos e os empresários tinham um Rubem Fonseca, e Bolsonaro e seus milicianos têm um Olavo de Carvalho.

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, DCM e Brasil 247. É autor do livro de crônicas 'Todos querem ser Mujica' (Editora Diadorim)

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