1. O PT liderou as coligações que governaram o país de 2003 a maio de 2016, quando a presidente eleita em 2014, Dilma Rousseff, foi afastada no início de um processo farsesco de impeachment.

Durante todo este período os governos se comportaram como fiadores da ordem democrática e da Constituição de 1988. E foram um pouco além: inúmeras iniciativas governamentais e/ou da sociedade civil - e apoiadas pelo governo à época que estas chegaram ao Congresso - no sentido de ampliar os direitos civis e da cidadania foram aprovados e sancionados pelos presidentes Lula e Dilma.

2. No comando de vários governos estaduais, como em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia, estados importantíssimos das regiões Sudeste, Sul e Nordeste, os governos petistas eleitos se comportaram de forma absolutamente republicana e democrática. Não há um só registro de qualquer ameaça à ordem constitucional ou republicana por parte desses governos petistas. Nenhuma.

3. Erros e acertos na condução política do país ou de estados fazem parte da atividade política e as eleições, espaço onde a vontade do povo se expressa, tratam de dar novos rumos após o julgamento dos governantes. Normal.

4. O que não é normal no país é o antipetismo fortíssimo. Este nada tem de natural, sendo produto de uma narrativa construída artificialmente por adversários políticos do PT, que ostentam posições quase hegemônicas na mídia, entre os setores que controlam a banca, o mercado e as finanças nacionais e suas representações na política tradicional (PSDB e DEM, mais acentuadamente).

5. A narrativa falsa grudou no imaginário nacional duas mentiras: que o PT é um partido corrupto e que o PT é um partido extremista. Nenhuma das duas afirmações possui qualquer aderência à realidade. Foram construções artificiais.

6. A primeira, elaborada pela mídia em consórcio com a Operação Lava-Jato, partiu da constatação que o PT - assim como todos os demais partidos PMDB, PSDB, DEM e PP que realmente disputavam o poder no país -, foi, nas últimas décadas, financiado por empreiteiros e fornecedores do estado, num esquema onde corrupção e comportamento nada republicano estiveram presentes. A culpa do PT neste assunto é a mesma, idêntica, a de todos os demais partidos e, eu até diria, de acordo com o que pude observar e constatar seguindo de perto a Lava-Jato, que o PT foi sócio menor neste clube onde despontavam na liderança PMDB e PP, seguidos de perto pelo PSDB. Mesmo os poucos parlamentares e operadores do PT, flagrados com sendo beneficiários pessoais de corrupção, são em pequeníssimo número quando comparados aos demais partidos. Entretanto, a atuação do juiz Sérgio Moro, muito próximo politicamente ao PSDB, transmudou de forma planejada a situação real - encobrindo e relevando crimes de mesma natureza do PMDB e PSDB - para demonizar o PT e as suas lideranças.

7. Quanto à caracterização do PT como partido extremista, algo que é negado pela própria realidade objetiva da atuação do partido em décadas de normalidade democrática no país, não passa de uma construção farsesca de intelectuais levianos, desclassificados, com estreita relação com os tucanos paulistas, com objetivo político evidente: isolar o PT de qualquer possiblidade deste construir alianças com os partidos liberais de centro ou com um ideário social-democrata ou ecológicos nas disputas pelo poder. Nada mais do que isto.

8. As dificuldades atuais da coligação PT/PC do B, com os ótimos Fernando Haddad e Manuela D'Ávila - políticos com história de quase duas décadas servindo ao país e com comportamentos absolutamente progressistas e de respeito total à democracia - se devem às falsas narrativas construídas de forma planejada.

9. Mas, na política, muitas vezes o veneno em demasia mata não o adversário e sim o produtor e utilizador da peçonha, não é mesmo? Esta frase pode resumir o que provocou o cenário político atual do país. O PT sobreviveu ao veneno, liderando a coligação na qual é amplamente hegemônico, conquistando algo como 31,3 milhões de votos no pleito presidencial e elegendo ótimas bancadas nos estados e na Câmara dos Deputados. Os articuladores da demonização petista amargaram resultados pífios - não mais que 5,0 mi de votos no pleito nacional e suas bancadas foram drasticamente reduzidas - e abriram caminho para o "messias" de ocasião, um político truculento, autoritário e despreparado que, na sua suprema mediocridade, desponta como o "salvador da pátria" dos nefastos (sic) petistas.

10. Por que uma ampla frente política de democratas não se forma para deter a escalada ao autoritarismo, a provável quebra dos paradigmas de defesa da cidadania expressos na Constituição de 1988 e a entrega do comando da nação a um político sem qualidades? Porque a autocrítica maior não é o PT que precisa fazer. Não é mesmo. O erros petistas estão sendo cobrados e o preço pago pelo partido e seus líderes tem sido alto. O problema é que os liberais e os social-democratas brasileiros, autores ou cúmplices da farsa montada para a demonização do PT, não conseguem se libertar da trama sórdida que elaboraram e, perplexos, preferem assistir o "circo Brasil" pegar fogo. Imaginam também que as chamas dificilmente atingirão as colinas de Higienópolis, os altos andares onde residem em apartamentos luxuosos na Zona Sul carioca ou as mansões onde vivem em condomínios com guarda privada 24 horas/dia.

Claudio Guedes é empresário.

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