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Nacionalismo e o fascismo. Por Fernando Horta
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Cidadania
Qui, 20 de Julho de 2017 01:30

Fernando_HortaExiste um argumento circulando nas redes a respeito do conceito de "fascismo". Já o li diversas vezes, em publicações minhas (em diversos lugares), algumas vezes defendido por historiadores. O argumento é que não estamos vivendo nada parecido com o fascismo porque o fascismo era "nacionalista" e o que estamos experimentando é uma entrega material e ideológica aos interesses estrangeiros.

Eu defendo que estamos já em uma das tantas camadas do fascismo e uma ou outra vez tentei me manifestar a respeito deste argumento. Como me perguntaram diretamente a respeito disto, vamos pontuar algumas coisas;

(1) é errado dizer que o fascismo era nacionalista sem antes discutir o que é nacionalismo. De antemão podemos dizer que "nação" é um termo polissêmico e nacionalismo é a ideologia que se constrói sobre o termo nação. 
(2) Eric Hobsbawm mostra no livro "Nações e Nacionalismos desde 1780" que o nacionalismo vem antes de nação. Ou seja, é a ideologia que constitui o todo identitário que se chama "nação". E que nação é uma palavra que nada expressa por si só, dependendo, portanto, dos adjetivos que lhe são dados.
(3) Benedict Anderson no livro "Comunidades imaginadas" mostra como estas nações (que não existem materialmente, por isto "imaginadas") são dependentes de criação teórica, através da educação, dos jornais, livros, literatura e etc.
(4) Habermas tem uma produção imensa neste tema, estudando o impacto do nazismo (condicionantes históricos) sobre a ideia de nação alemã. Mas no texto "Realizações e limites do estado nacional Europeu" fala de "solidariedade legalmente mediada" para mostrar como os discursos políticos construíram as ligações entre os cidadãos. E se alguns discursos "constróem", outros destróem. Assim, qualquer nacionalismo é sempre um jogo de exclusão, para dizer quem está dentro (e tem direitos) e quem está fora e não os tem.
(5) Paul Ricoeur em "A memória, a história e o esquecimento" trabalha para demonstrar como a história vira "memória" (com valor político de ser "lembrado") e como o "esquecimento" também é um ato político. Ou seja, é a partir da escolha consciente que os homens definem o que é para ser lembrado (no sentido institucional) e transformado em "memória" e o que deve ser "esquecido". E fazem isto para consolidar poder a ser usado políticamente.

Dito isto vamos a algumas conclusões

(a) a ideia de nação é politicamente construída e não existe antes do discurso que a invoca. Assim, não existe uma "nação alemã" antes que agentes políticos digam que a nação alemã tem as características A, B e C e que quem não tem não faz parte.
(b) o nacionalismo (o discurso que idolatra a nação), ele é, portanto, uma ferramenta de luta política, pois exclui racionalmente indivíduos a partir de critérios historicamente delimitados.
(c) o fascismo e o nazismo eram nacionalistas apenas segundo o conceito deles de nação, que pode incorporar os austríacos, que tinha um respeito pelos nórdicos (que consideravam ancestrais dos germânicos), mas que excluíram judeus, ciganos, homossexuais e etc. Note-se que os excluídos nasceram em solo alemão, falavam alemão, eram parte da comunidade alemã e tinham tantos descendentes "puros" quanto os "alemães de verdade". Portanto, o critério do "nacionalismo nazista" NÃO É O MESMO de outros nacionalismos. Bastava, por exemplo, que um alemão "da gema" fosse comunista para deixar de fazer parte da "nação alemã".
(d) assim, a ideia de "nação" para um nazista é diferente da ideia para um japonês, que é diferente em relação a um norte-americano e, se você perguntar o que é nação a um líder africano, vai ouvir outra coisa ainda ... 
(e) no Brasil, por exemplo, o discurso nacionalista que o General Castelo Branco tinha era diferente do discurso de Médici, por exemplo. Diferentemente da Alemanha nazista, o Brasil ainda não conseguiu homogeneizar seu discurso a respeito do que seria a "nação brasileira", por exemplo.

Daí terminando, cuidado para não usarmos como ponto de diferenciação um conceito que não diferencia nada. E não diferencia exatamente porque é feito para ser maleável e servir aos interesses de quem exerce o poder político. A nação de Lula era inclusiva materialmente e em termos de direitos sociais e políticos. A nação de Temer é exclusiva materialmente. A nação que querem grupos fascistas, como o do bolsonaro, é totalmente excludente, lembram que "quilombola não serve nem para procriar", segundo o "jênio" deputado carioca.

Vivemos sim um modelo de sociedade fascista, e o uso da ideia de "nação" (excludente) e sua associação ao discurso nacionalista (preconceituoso) é uma das principais características deste momento. O fato de os nossos fascistas não verem problemas em entregar o que é pátrio aos estrangeiros NÃO É PROBLEMÁTICA. Hitler não viu problemas em financiar os italianos, em fazer acordos com a URSS ou em aceitar ajuda de capitalistas estrangeiros para criar seu poderio. Chiang Kai Shek, por exemplo, via menos problemas na invasão japonesa à China do que no exército de Mao Tse Tung. As elites brasileiras, historicamente, nunca viram os EUA como um "problema", e sim como um aliado contra os grupos sociais indesejados (as "clases peligrosas" que falam os historiadores da américa). Por isto pode-se sim - e deve-se - reconhecer como fascista a direita entreguista brasileira. Seu conceito de "nação" é excludente com relação aos grupos pobres de brasileiros natos e aceita as ingerências yankees, mas esta ilogicidade não os torna menos fascistas.

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