Lula estará presente no domingo de eleição através de sua imensa espiritualidade política. por Gustavo Conde |
Cidadania | |||
Sex, 05 de Outubro de 2018 03:51 | |||
Quando Fernando Haddad foi oficializado como candidato de Lula e do PT à Presidência da República, no dia 11 de setembro, o acampamento Marisa Letícia foi tomado por uma forte emoção.
O acampamento dos sem-terra que faz vigília a Lula tem duas araucárias bem altas. Lula as vê de dentro da prisão, por uma pequena janela. Sabe que as pessoas estão ali e que vem dali o som do povo que lhe dá ‘bom dia’, ‘boa tarde’ e ‘boa noite’, todos os dias, desde que foi preso. Quando a perseguição do judiciário se tornou impossível de se contornar, Fernando Haddad deveria assumir a candidatura e o local do rito de passagem deveria ser público e o mais perto possível de Lula, sobretudo pela intensidade do afeto envolvido. Lula escreveu uma carta para consagrar essa passagem de bastão. Todos se reuniram no acampamento que leva o nome de sua eterna e amada esposa, morta em função do estresse familiar e humano causado pela truculência judicial da Lava Jato. A tarefa de ler a carta não seria fácil devido à emoção. Coube ao advogado Luiz Eduardo Greenhalgh a tarefa. Ele leu. Enquanto ele lia, Ana Estela Haddad, esposa de Fernando Haddad, olhava as araucárias e sabia que Lula, de dentro da prisão, também estava olhando aquelas mesmas araucárias e escutando a leitura de sua carta. Lula estava ouvindo de dentro da prisão a carta que ele mesmo escrevera. De dentro de uma prisão que ele mesmo inaugurara quando presidente (há uma placa no saguão da Superintendência que leva o seu nome). De dentro de uma solidão que chora por Marisa, que chora pela democracia sequestrada e que chora pelo povo brasileiro. Ana Estela relata que olhava as araucárias, olhava os sem-terra ali presentes - todos profundamente emocionados -, e que foi muito difícil conter a emoção. As pessoas que ali estavam amam Lula de verdade – e não se trata de um amor político, simbólico ou social: trata-se de um amor intenso, humano e espiritual. Todos ali sabiam do imenso amor de Lula, de seu altruísmo, de seu pacifismo e de sua responsabilidade em querer deixar para o país que ama um legado de soberania, autoestima e democracia. Lula ama a democracia. Ama seus amigos de luta. Ama as pessoas simples do povo. A maior dor de Lula não é a privação da liberdade de ir e vir, pura e simplesmente. A maior dor de Lula é não poder abraçar o seu povo neste momento, coisa que ele fez durante a vida toda e que é parte integrante de sua rotina espiritual e humana. Lula está orando por todos nós neste momento. E não porque ele quer que o PT vença as eleições, mas apenas porque ele é um homem de fé. Lula é um cristão apaixonado pelo seu país e pelo seu povo. Segundo Frei Betto, Lula jamais tocou em um prato de comida sem antes rezar e agradecer a Deus. O frade dominicano diz ser esta uma prática por demais arraigada em Lula. Nem em almoços oficiais com chefes de Estado ele se esqueceu de seu ritual sagrado, particular, consagrado também a sua mãe Dona Lindu, emanação de espiritualidade e caráter que habita a sua simplicidade de homem do povo. E se Lula ora por nós e pelo país, nós lhe devemos a reverência. Ele se sacrifica por todos nós. Neste momento em que sua ausência é tão sentida, seja por sua inteligência política, seja por sua sensibilidade amorosa, é preciso fazer Lula presente, de todas as formas. O país sente a falta de Lula, de sua voz, de seu sorriso, de sua luminosidade, de sua humanidade. Sem Lula, o Brasil fica triste, acuado, com medo. O momento é de muita seriedade e disciplina política – e existencial. É preciso, nestes instantes que precedem o dia da eleição, refazer a conexão político-espiritual com Lula. O golpe não se engana: afastar o corpo e a voz de Lula do cenário eleitoral é a única e mais importante estratégia do submundo egoísta e egocêntrico que parasita o nosso país. A privação de sua presença é sentida pelo povo e provoca sentimentos de desterro e desalento. É preciso vencer mais essa batalha que é ter Lula aonde ele sempre esteve, que é bem dentro do coração da democracia e dos nossos próprios corações democráticos. Lula esteve presente em todas as eleições brasileiras desde o fim da ditadura militar. Estava em 1989, estava em 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014, senão na cédula, como líder máximo do processo. É a primeira vez na história recente que Lula não estará presente fisicamente, embora ele lidere o processo da mesma maneira, mas com muitas dificuldades – pois não é trivial liderar o processo eleitoral de dentro de uma prisão. É muito emblemático perceber que, sem Lula, o processo eleitoral brasileiro, a despeito de toda a força de Haddad e da frente progressista que se formou em torno dele, torna-se sequestrado por discursos de ódio, por enunciados vazios e por chantagens de mercado puras e simples. É preciso resistir a tudo isso. É preciso reinvestir Fernando Haddad de Lula nessa reta final. É preciso recobrar a emoção que sempre foi o elo de ligação entre Lula, a democracia e o povo. É preciso adensar a figura de Haddad neste processo de ligação. É Lula – democracia – Haddad – povo. A memória política de uma eleição é vertiginosa e troca “de mãos” várias vezes. A ordem é não esquecer de Lula e não esquecer que ele é Haddad nesta cédula eleitoral. Nós devemos essa deferência àquele que foi e é o nosso maior líder político da história, o homem que realmente levou o discurso à prática e até o superou, com processos virtuosos de governança e de amor real pelo seu povo. Essa vitória a Lula o povo brasileiro saberá dar e saberá comunicar a ele, bem ali, entre as duas araucárias que iluminam sua conexão infinita com o povo que o ama e que quer vê-lo feliz de novo. Artigo publicado originalmente em https://www.brasil247.com/pt/colunistas/gustavoconde/370974/Lula-estar%C3%A1-presente-no-domingo-de-elei%C3%A7%C3%A3o-atrav%C3%A9s-de-sua-imensa-espiritualidade-pol%C3%ADtica.htm
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