O silêncio dos jornais por Luciano Martins Costa |
Cidadania | |||
Sex, 27 de Março de 2009 13:52 | |||
A Folha de S.Paulo e o Globo ignoraram a notícia, mas o Estado de
S.Paulo publica na edição de terça-feira (24/3), com destaque, que o Tribunal
Regional Federal da 3ª Região impôs ontem uma importante derrota à estratégia de
defesa do banqueiro Daniel Dantas.
O controlador do banco Opportunity queria trancar a ação penal nascida
da acusação de corrupção ativa, por tentativa de subornar um delegado federal
para ser excluído da chamada Operação Satiagraha.
A decisão é fundamental para o prosseguimento das ações judiciais
contra Dantas. Por essa razão, os leitores da Folha e do Globo ficarão menos
informados sobre o assunto do que os leitores do Estadão.
A defesa de Daniel Dantas queria que a Justiça Federal considerasse
irregular a parceria feita entre a Polícia Federal e a Agência Brasileira de
Inteligência - Abin - durante as investigações. Se a Justiça acatasse essa tese,
o processo poderia ser abortado, mas os magistrados votaram por unanimidade
considerando que a ação conjunta entre a Abin e a Polícia Federal não tem nada
de errado.
Muito barulho
Fica, portanto, sobre a mesa, uma questão incômoda para ser respondida
pela imprensa. A quem mais, a não ser ao próprio Daniel Dantas, interessaria
toda a campanha feita principalmente pelos jornais O Globo e Folha de S.Paulo e
pela revista Veja, no sentido de criminalizar as ações da Polícia Federal junto
com a Abin?
Fica evidente, até mesmo para o leitor mais distraído com a paisagem,
que parte da imprensa brasileira tem dedicado os últimos meses mais energia e
espaço à tentativa de desqualificar os investigadores do que a investigar o
acusado. Foi tão desproporcional a concessão de espaço para supostas revelações sobre desmandos atribuídos ao delegado Protógenes Queiroz e ao juiz responsável pelo caso Satiagraha, Fausto de Sanctis, que algum leitor poderia supor que o delegado e o juiz é que eram os principais acusados. O fato de parte da imprensa omitir na terça-feira (24) de seus leitores que a Justiça Federal considera normal a parceria entre a Polícia Federal e a Abin chega a soprar na brasa da teoria conspiratória segundo a qual o banqueiro contaria com a solidariedade de algumas redações. Será que foi apenas um "furo" do Estadão? Os outros jornais não têm acesso à agenda da Justiça Federal? Depois de todo barulho a respeito das ações conjuntas entre as duas instituições, o silêncio da Folha e do Globo chega a ensurdecer. A disputa pelos leitores O caso Satiagraha deflagrou uma guerra nos bastidores da imprensa, que só pode ser acompanhada pela internet. Desde o já clássico confronto entre a revista Veja e o jornalista Luis Nassif, até os vazamentos e contravazamentos de supostas revelações da Polícia Federal, o escândalo envolvendo o banqueiro Daniel Dantas dá uma idéia de outra disputa que marca este começo de século: a disputa entre a imprensa tradicional, de papel, e a nova imprensa, que trafega pelos meios eletrônicos, pela atenção e o tempo dos leitores. A internet está completando sua segunda década. A configuração gráfica da comunicação entre computadores, inaugurada com o navegador Mosaic, em 1994, cresceu, se espalhou pelo mundo e se miniaturizou, conquistando espaço também nas telinhas dos telefones celulares. O jornalismo infiltrou-se pelos novos meios, e agora o leitor, antigo receptáculo passivo de informações, é também agente e observador da imprensa. Artigo publicado originalmente no http://www.
|
Agenda |
Aldeia Nagô |
Capa |