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Golpe em Honduras: A armadilha da mediação de Oscar Arias por Álvaro Montero
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Cidadania
Seg, 20 de Julho de 2009 06:11
Ao colocar em cena a figura do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, na negociação sobre o golpe em Honduras, Hillary Clinton, em um evidente ato de astúcia e perfídia, desloca o cenário do movimento democrático continental da OEA, com a participação de governos democráticos, para o reduzido salão da casa privada de Arias. Além disso, coloca o presidente Zelaya em um ato de objetivo reconhecimento dos golpistas. A análise é do advogado costariquenho Álvaro Montero Mejía, doutor em Economia Política pela Universidade de Paris. “Eu sou o homem das dificuldades”, dizia Simón Bolívar. Era pois, o homem das crises, das grandes contradições sem as quais não haveria nem transformações sociais nem povos livres. E isso é precisamente o que se anuncia ao largo de Nossa América, como chamava Martí aos povos do subcontinente.


Transcorreram 50 anos desde o triunfo da Revolução Cubana, a qual, desde seu nascimento, sofreu o embate implacável das oligarquias nativas, encabeçadas pelo governo de turno dos Estados Unidos, Durante estes 50 anos, o chamado “perigo comunista” e Cuba foram sempre o insubstituível pretexto para reprimir as vozes que exigiam o fim da opressão econômica, o fim das ditaduras e o fim do saque de nossas riquezas naturais e humanas. Dezenas de milhares de vidas promissoras foram cegadas na luta pela democracia, E ninguém perdeu mais filhos do que o movimento progressista e de esquerda.

Agora, o perigo se chama Hugo Chávez, que “ameaça destruir as democracias e instaurar a ditadura”. Nos países menos democráticos do continente, como é o caso da Costa Rica, onde quase não existem meios de comunicação que permitam um debate social ampliado e de fundo, é relativamente fácil ocultar a verdade e confundir milhares de pessoas de boa fé.

Desta situação surgem como coresponsáveis, os dirigentes de partidos progressistas que impedem ou atrapalham a unidade de forças. Com isso, evitam que o movimento patriótico fale com uma voz mais potente e penetrante.

O golpe de Estado em Honduras incrementou a polarização em toda a América Latina e, particularmente, na América Central. Mas essa polarização vem de antes. De um lado, a irrefreável cobiça de uns poucos; de outro, os povos que aspiram à democracia, à participação e ao bem estar. Para a desgraça da direita mais extremista do continente, ocorreram, um após outro, triunfos eleitorais de movimentos progressistas, que mudaram a face do continente.

A América Central não foi uma exceção. Mesmo com todas suas naturais diferenças, o pequeno enclave de nossas repúblicas ístmicas representa um lugar estratégico da geopolítica mundial e a chave de comunicação entre o oceano histórico do capitalismo que é o mar Atlântico e o oceano fundamental do terceiro milênio que será, sem dúvida, o mar Pacífico.

Neste sentido, a transformação do Estado oligárquico de Honduras em uma autêntica nação democrática e participativa, viria completar um quadro absolutamente inaceitável para os potentados centroamericanos, indissoluvelmente aliados das grandes corporações dos Estados Unidos. Era, pois, indispensável acabar com o tímido, mas justo, esforço do presidente Zelaya para começar a construir um Estado que, pela primeira vez na história de Honduras, se preocupava com as necessidades fundamentais de seu povo.

Foi assim que começou a se preparar o golpe. É sabido que os Estados Unidos possuem um dos aparatos de inteligência política e militar mais sofisticados do mundo. É sabido que o exército de Honduras respira pelos narizes de seus assessores estadunidenses. Desde a década de 1980, chefiado por autênticos açougueiros, o exército hondurenho foi a estrutura de base utilizada por Reagan e Bush para sustentar as bases militares dos “contra”, em território hondurenho e no norte da Nicarágua. Este mesmo exército colaborou com a CIA no traslado e venda de drogas, para financiar a guerra suja contra o sandinismo. De modo que nem uma folha de papel se move no exército hondurenho sem o conhecimento dos oficiais de inteligência dos EUA.

Por sua parte, Oscar Arias não tem um corpo oficial de inteligência regional, mas possui um que pode superar tal ausência com vantagens. É necessário assinalar que a Costa Rica tem sido até agora um centro privilegiado de investimentos financeiros e empresariais dos mais poderosos capitais centroamericanos. Potentados bancários, donos de meios de comunicação, fazendeiros, investidores imobiliários, industriais e comerciantes, deslocaram gigantescas somas de recursos e converteram-nas em promissores investimentos em nosso país. O veículo fundamental desse processo foi o governo dos irmãos Arias. De modo que não existe nenhuma angústia, preocupação ou festejo da nova oligarquia centroamericana que não seja compartilhada com o atual governo da Costa Rica.

A quem então pretendem convencer que a CIA e o governo dos Arias não conheciam o propósito golpista que se tramava em Honduras? Felizmente, a resposta continental e mundial ante o golpe foi unânime. Isto colocou em má posição os porta vozes da direita na América Latina e em outros lugares do mundo. No entanto, reagiram com rapidez. Recapitular isso aqui seria muito extenso. No início, a CNN nem sequer falava de “golpe”. O mesmo ocorreu na Costa Rica e no momento em que escrevo estas linhas, a manchete do jornal A Nação fala dos presidentes “hondurenhos” e ao pé da foto de Arias, relata que “após reunir-se com ambos presidentes...etc”. Mas examinar o manejo midiático, parcial e truculento, não é nosso objetivo imediato, mas sim o que temos chamado de “a armadilha da mediação”.

Fica claro que são duas as forças continentais que tiram proveito direto do golpe militar: a extrema direita, civil e militar, dos Estados Unidos, e a nova oligarquia centroamericana. Ainda assim, para esta última, mais importante que resgatar Honduras “das garras do chavismo” é garantir a continuidade do governo dos irmãos Arias e assegurar que a Costa Rica será, como até agora, o paraíso financeiro e de investimentos construído ao longo dos últimos anos.

Isso explica por que a senhora Clinton, em um evidente ato de astúcia e perfídias, retira a discussão sobre o golpe militar do lugar que o condenou desde o início, a OEA, e ao mesmo tempo esquiva-se do compromisso e da atitude firme dos governos da América Latina. Estes governos estão totalmente preparados para facilitar uma mediação, se fosse o caso, a fim de garantir a preservação dos direitos civis e políticos do povo hondurenho, a solução pacífica de qualquer tipo de confrontação externa e, sobretudo, a restituição incondicional de Manuel Zelaya ao seu cargo de presidente.

A OEA, neste momento, está preparada ou não para cumprir essa obrigação. A resposta é óbvia. A OEA está completamente preparada. De onde, então, aparece em cena Oscar Arias? A resposta também parece óbvia. Com a proposta da senhora Clinton se matam vários pássaros com um tiro. Vejamos: atenua-se a qualificação de Roberto Micheletti como usurpador e novo sátrapa de Honduras, que passa a ser chamado de “presidente”, com o que se prolonga indefinidamente a situação; dá-se tempo às forças oligárquicas de Honduras para articular uma recuperação de seu poder de fato, social e político, e preparar a convocação de novas “eleições”; coloca o presidente Zelaya em um ato de objetivo reconhecimento dos golpistas; desloca o cenário do movimento democrático continental da OEA, com a participação de governos democráticos, para o reduzido salão da casa privada de Oscar Arias; traz à tona a figura de Oscar Arias como um novo herói da paz na América Central, escanteando as forças opositoras e garantindo a continuação indefinida do poder arista na Costa Rica.

Compreendemos que a decisão fundamental sobre a justiça social e a democracia está nas mãos do povo de Honduras. Em momentos como este, coloca-se à prova a lucidez e a fortaleza dos dirigentes sociais e das lideranças políticas. Nossos deveres, como irmãos centroamericanos, são a solidariedade incondicional e a denúncia das jogadas trapaceiras e dos propósitos ocultos daqueles que só servem aos seus próprios interesses.

Álvaro Montero Mejía é advogado, costariquenho, doutor em Economia Política pela Universidade de Paris.

Tradução: Katarina Peixoto

Artigo publicado originalmente em www.cartamaior.com.br


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