Artigo publicado originalmente em https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/12/o-fracasso-do-mundo-pos-sovietico.shtml
O fracasso do mundo pós-soviético. Por Breno Altman |
Cidadania | |||
Seg, 27 de Dezembro de 2021 04:11 | |||
No dia 26 de dezembro de 1991 deixava de existir a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). O capitalismo fora vitorioso, ao menos provisoriamente, na batalha iniciada em 1917, quando os bolcheviques chegaram ao poder a bordo de uma revolução que mudaria o mundo. O colapso soviético, nos últimos 30 anos, foi decisivo para a consolidação da fase neoliberal do sistema capitalista. O desaparecimento do campo político, econômico e militar que media forças com o bloco liderado pelos Estados Unidos provocaria realinhamentos profundos na geopolítica mundial e na vida interna das sociedades. A restauração da economia de mercado, nos primeiros momentos, afetou prioritariamente os povos do leste europeu, desmontando mecanismos de proteção social. Os novos Estados oligárquicos-burgueses foram tragados pela concentração de renda e riqueza, acompanhada pela precarização de direitos e o empobrecimento das classes trabalhadoras. Ainda que setores médios emergentes tenham se beneficiado de maior abertura econômica, essas nações voltaram a ser abocanhadas pelas principais potências imperialistas, sequiosas por ampliar mercados, exportar plantas industriais e ter acesso à mão de obra mais barata. A implosão da experiência socialista, carcomida por erros e contradições, inibiu a resistência contra o ressurgimento capitalista. Tornou-se avassaladora a hegemonia das ideias liberais, com promessas de democracia e prosperidade. Sequer a reconstrução da Rússia, sob o nacionalismo de Vladimir Putin, alterou esse cenário, com evidentes sinais de degeneração, como os emitidos pela ascensão do neofascismo na Polônia, Hungria e Ucrânia. Mas os reflexos do desaparecimento da URSS se estenderiam também ao Ocidente. Sem a ameaça de um sistema que, no pós-guerra, forçou o capitalismo à concessão de amplos benefícios aos trabalhadores dos países centrais, governos conservadores se viram de mãos livres para começar o desmonte dessas conquistas. A social-democracia europeia aceleraria sua adesão ao neoliberalismo, desprovida da condição de muro reformista para contenção do avanço soviético. A esmagadora maioria dos partidos comunistas ou revolucionários foi demolida, desorganizando o movimento operário e sindical, já acossado por mudanças tecnológicas. Boa parte dessas organizações e lideranças capitulou à ideia de que a história chegara ao fim, com a perenidade do capitalismo, restringindo seu próprio papel à contenção de danos mais dolorosos. A onda de retrocesso atingiria com maior impacto as nações periféricas, condenadas a uma divisão internacional do trabalho na qual deveriam aceitar sua função de provedora agroextrativista. Sem a URSS, a lógica neocolonial adquiriu inédita desenvoltura. Excluída a China da contabilidade, o mundo tem assistido à decadência de alguns dos principais índices sociais, inclusive nas nações desenvolvidas, como os Estados Unidos. Também se eleva o número de guerras e conflitos armados, além da degradação ambiental. O capitalismo, sem freios, empurra a humanidade para a barbárie. Oxalá sua crise estrutural abra nova janela histórica para que seja enterrado um sistema no qual a riqueza de 1% representa o patíbulo para todos os demais. Artigo publicado originalmente em https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/12/o-fracasso-do-mundo-pos-sovietico.shtml
|
Agenda |
Aldeia Nagô |
Capa |