O Brasil é uma piada. Por Mino Carta |
Cidadania | |||
Ter, 29 de Março de 2022 20:41 | |||
Meu irmão, ainda pequeno, mas arguto, afirmava que os astrônomos são donos do mundo. Não me esclarecia a respeito, embora a fé dele fosse inquebrantável. Mas havia no globo, segundo ele, uma zona morta em torno da linha do Equador, onde os astrônomos não funcionavam e, portanto, perdiam completamente a possibilidade de dizer do nosso passado, do presente e do futuro. No Brasil, astrônomo não tem vez. Eclode a informação de que o promotor Deltan Dallagnol vai ter de pagar ao ex-presidente Lula a quantia de 75 mil reais. Poderá passar ainda de 100 mil. A razão da regalia talvez corresponda à intenção de reparar danos morais. O eminente Luís Roberto, ministro do Supremo, pertence à categoria dos falsos astrônomos, como, de resto, a maioria dos integrantes de um Supremo Tribunal Federal que apoiou os golpes de Estado postos em prática pelos poderes da República contra o PT eleito ao poder. Há perguntas que imploram resposta imediata: por que o STJ, este pináculo da Justiça, não interveio logo quando Dallagnol pronunciou a célebre diatribe a respeito do PowerPoint? Por que o Supremo não esclareceu, alto e bom som como um editorial do Estadão, que toda aquela encenação era parte de uma farsa colossal urdida contra os interesses do País? Confesso a necessidade de dizer que o Brasil destes astrônomos falidos, este Brasil sonso e velhaco, não passa de uma piada cuja única serventia é a diversão do mundo. Gostaria de recorrer a outro vocabulário. Não há, porém, alternativa para quem deseja expressar com a necessária nitidez a justa reação às burlas trágicas dos falsos astrônomos, empenhados em demonstrar uma normalidade absolutamente fajuta. A história é outra: o Brasil foi marcado inexoravelmente por uma série de golpes de Estado engendrados e levados a cabo pelos próprios poderes da República. Configura-se, desta maneira, uma situação absurda, melhor ainda, paradoxal, imposta ao País e aceita pelo povo em estrondoso silêncio. Pretende-se uma normalidade forjada em benefício de um status quo destinado a confirmar que a Idade Média da casa-grande e da senzala continua, intocada, a reinar no País. Artigo publicado originalmene em O Brasil é uma piada - CartaCapital
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