Educação Profissional e a herança africana por Nelma Barbosa |
Cidadania | |||
Qui, 05 de Maio de 2011 22:57 | |||
A Educação
Profissional sofreu um vigoroso impacto nos últimos oito anos com a criação da
Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.
A Rede
compõe-se de 214 campi, englobando 38 institutos federais, 02 Centros
Federais de Educação e Tecnologia (CEFET), 23 escolas ligadas às universidades
e 01 universidade tecnológica. Oferece o ensino médio, técnico, superior em
tecnologia, licenciaturas, mestrado e doutorado. Essa proposta de formação
profissional em diversas modalidades enfatiza a Ciência e Tecnologia,
articulando-se o ensino, pesquisa e extensão com os arranjos produtivos locais
e formação de professores da Educação Básica. Neste rastro, temos o
desafio de criar e consolidar um programa educacional emancipatório decisivo
para a eliminação da desigualdade social e para a afirmação de nossas
identidades. Ao considerarmos que boa parte do discurso da Educação Profissional se pauta na geração de empregos, qualificação da mão-de-obra e inclusão vantajosa na ordem mundial contemporânea, é preciso ponderar sobre a escravidão, produção da miséria e precarização das relações de trabalho em nosso país. Há um fosso econômico que divide brancos e negros na sociedade brasileira, originado pela escravização de homens e mulheres no período das Grandes Navegações e Colonização européias (início da globalização). Estas diferenças foram reforçadas pelo racismo existente no Brasil em todas as suas variantes, entre elas a institucional (praticada por estruturas organizacionais públicas ou privadas que tratam determinado grupo como inferior por causa da cor) e a epistêmica (que considera um grupo humano mais inteligente que outro em função da pele). O projeto de nação do Brasil Império e República traçou impeditivos para a elevação à condição cidadã dos ex-cativos e seus descendentes. Ontem e hoje, na globalização, a qualificação da mão-de-obra e o acesso aos avanços da Educação, da Ciência e da Tecnologia definem os lugares a serem ocupados, os sujeitos, as centralidades, as periferias e o padrão de poder mundial. Por isso é que o sistema escravista preferiu a exploração dos africanos e trouxe forçadamente para o Brasil cerca de seis milhões de pessoas dominando técnicas e conhecimentos os mais variados possíveis. A África desempenhava até aquele momento histórico um papel protagonista na produção de conhecimento. Estes negros conheciam e dominavam a metalurgia, a siderurgia, ourivesaria, carpintaria, agricultura, cultivo de plantas têxteis, a cerâmica, técnicas de caça, etc. Há importantíssimas contribuições africanas para a ciência e tecnologia mundiais na astronomia, medicina, navegação, engenharia, matemática e arquitetura. Diante do contingente de escravos com avançada instrução profissional foi preciso, então, um grande empenho de nossas elites para o apagamento dessa memória através de um sistema de dominação muito bem articulado. O arcabouço colonial deteve o desenvolvimento científico e tecnológicos dos africanos e de seus descendentes, ao mesmo tempo que possibilitou a difusão de suas idéias através da diáspora e da cultura negra, contribuindo para a edificação de países como o nosso. Assim como na África, o maior inibidor de progresso técnico foi o sistema de ensino que difundiu valores equivocados, a exemplo da democracia racial brasileira (falsa idéia na qual todos temos iguais oportunidades independentemente da cor da pele). A Rede Federal tem o desafio atual de evidenciar a herança de outros povos e reconstruir a história científica e tecnológica do Brasil por meio do enfrentamento corajoso do racismo presente no âmago das instituições de ensino e de suas práticas pedagógicas. Cumpram-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino da História da África e Cultura Afrobrasileira (originadas pela Lei 10.639/03) e a Lei Federal 11645/08, que obriga o ensino da História Africana e Indígena, das Culturas Afrobrasileira e Ameríndias! Uma educação antirracista nos fará uma sociedade justa, desenvolvida em paz e em igualdade de direitos e oportunidades. Nelma Barbosa é professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano)
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