Sinceridade bilionária por Paulo Moreira Leite |
Cidadania | |||
Sex, 19 de Agosto de 2011 16:49 | |||
Todo país gosta de um bilionário falastrão e corajoso, capaz, de vez em
quando, de se colocar acima de seus interesses pessoais e dizer verdades
que todos precisam ouvir.
Os Estados Unidos atravessam uma fase
de estagnação econômica e desmoralização política, quando um presidente
eleito em nome de mudanças não pára de capitular diante de adversários
ultra-conservadores. Mas os EUA podem festejar a intervenção de um bilionário como Warren Buffett. Ontem, no New York Times, Buffet publicou um artigo precioso pela disposição de reconhecer uma injustiça que beneficia os muito ricos e bilionários da América. Referindo-se ao acordo entre Barack Obama e os republicanos, o bilionário faz uma observação precisa: "Nossos representantes falam em ‘dividir o sacrifício.' Mas na hora de fazer o combinado, me pouparam. Conferi como meus amigos mega-ricos para saber qual sofrimento eles esperavam. Eles também não foram atingidos." Dono daquela que já foi a segunda maior fortuna do planeta, estimada em 50 bilhões de dólares, Buffett é um dos heróis da livre iniciativa americana. Costumava ser comparado a Bill Gates e tornou-se um desses personagens obrigatórios em reportagens economicas e mesmo em programas de auto-ajuda para o cidadão comum. Seu pronunciamento tem a credibilidade daquelas pessoas que assumem posições que contrariam os próprios interesses. Ele diz que paga poucos impostos e defende que o Congresso aumente a tributação de pessoas como ele. Sem jamais abandonar os princípios da economia capitalista, o argumento inclui uma certa visão de justiça social: "Enquanto os pobres e a classe média lutam por nós no Afeganistão, nós, mega-ricos tiramos proveito de grandes isenções fiscais," escreveu. Falando de sua última declaração ao fisco americano, Buffet lembra que o sistema é tão injusto que lhe permite pagar - em termos relativos - menos impostos do que seus empregados. Ele escreve que deixou US$ 6,9 milhões nos cofres do governo. "Até parece grande coisa," observa, para esclarecer que só pagou o equivalente a 17,4% de seus ganhos, a mais baixa porcentagem entre os 20 funcionários de seu escritório. "A carga tributária que eles pagam varia de 33% a 41%, sendo que na média fica em 36%." Essa curiosa situação em que um empresário paga, como pessoa física, menos imposto do que seus funcionários, é produto de uma legislação criada nas últimas decadas, que oferece imensas oportunidades para grandes investidores cairem para alíquotas mais baixas, em ginásticas tributarias que incluem lances de esperteza e até de má fé. Este período foi iniciado com o governo de Ronad Reagan, que realizou cortes profundos na previdência social e no imposto de renda das camadas mais altas. Buffett bate duro na mitologia dos fanáticos de mercado, que gostam de dizer que a queda nos impostos ajuda a estimular os investimentos. Tudo fantasia, explica, com o testemunho de quem fez grandes investimentos antes da década de 80, num período em que os impostos para ganhos de capital e investimentos financeiros eram muito mais altos. "Eu trabalhei com investidores por 60 anos e ainda não conheci ninguém - nem mesmo quando os impostos sobre ganhos de capital eram de 39,9%, entre 1976 e 1977 -que deixou de fazer um negócio por causa dos impostos. As pessoas investem para ganhar dinheiro e nunca ficaram amedrontadas em função dos impostos que iriam pagar." Quando fala de empregos, Buffet é simples e direto: "Para aqueles que argumentam que alíquotas altas dificultam a criação de empregos, eu poderia notar que perto de 40 milhões de postos de trabalho foram criados entre 1980 e 2000. Você sabe o que aconteceu depois disse: alíquotas mais baixas e criação de empregos ainda mais baixa." Pegue o link para ler o artigo na íntegra http://www.nytimes.com/2011/
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