Fracassomaníacos, por Emir Sader |
Meio Ambiente & Sustentabilidade | |||
Qui, 29 de Outubro de 2009 02:04 | |||
A invenção se
deve às ironias com que FHC tentava desqualificar o debate. Conhecedor que era,
se dedicou a essa prática, alimentada pelo despeito, o rancor e a inveja de ver
seu sucessor se dar muito melhor do que ele. E os tucanos se tornaram os
arautos da fracassomania, porque o governo Lula não poderia dar certo. Senão,
seria a prova da incompetência, dos que se julgavam os mais competentes. Lula fracassaria porque não contaria com a expertise (expressão bem tucana) de gente como Pedro Malan, Celso Lafer, Paulo Renato, José Serra, os irmãos Mendonça de Barros, entre tantos outros tucanos [tucanalhas!]. O governo Lula não poderia dar certo, senão a pessoa mais qualificada para dirigir o Brasil - na ótica tucana -, FHC se mostraria muito menos capaz que um operário nordestino [nem branco, sem um dedo, sem formação acadêmica, sem...]. Por isso o governo Lula teria que fracassar economicamente, com a inflação descontrolada, a fuga de capitais estrangeiros, o "risco Brasil" despencando, a estagnação herdada de FHC prolongada e aprofundada, o descontentamento social se alastrando, as divergências internas ao PT dividindo profundamente o partido, o governo se isolando social e politicamente no plano interno, além de no plano internacional. A imprensa se encarregou de propagar o fracasso do governo Lula. Ricardo Noblat, apresentando o livro de uma jornalista global, afirmava expressamente, de forma coerente com o livreco de ocasião, que "o governo Lula acabou" (sic). A crise de 2005 do governo era seu funeral, os urubus da mídia privada salivavam na expectativa de voltarem a eleger um dos seus para se reapropriarem do Estado brasileiro. FHC gritava, no ultimo comício do candidato [derrotado] do seu partido, que havia relegado seu governo, com a camisa para fora da calça, suado, desesperado, a dizer: "Lula, você morreu", refletindo seus desejos, em contraposição com a realidade, que viu Lula se reeleger, sob o cadáver político e moral de FHC. Um jornalista da empresa da Avenida Barão de Limeira relatava o desespero do seu patrão, golpeando a mesa, enquanto dava voltas em torno dela, dizendo: "Onde foi que nós erramos, onde foi que nós erramos?", depois de acreditar que a gigantesca operação de mídia montada a partir de uma entrevista a um escroque que o jornal tinha feito, tinha derrubado ao governo Lula. Ter que conviver com o sucesso popular, econômico, social e internacional do governo Lula é insuportável para os fracassomaníacos. Usam todo o tempo de rádio, televisão e internet, todo o espaço de jornal para atacar o governo, e só conseguem 5% de rejeição ao governo, com 80% de apoio. Um resultado penoso: qualquer gerente eficiente mandaria todos os empregados das empresas midiáticas embora, por baixíssima produtividade. Como disse, desesperadamente, FHC a Aécio, tentando culpá-lo por uma nova derrota no ano que vem: "Se perdermos, são 16 anos fora do governo..." Terminaria definitivamente uma geração de políticos direitistas, entre eles Tasso, FHC, Serra - os queridinhos do grande empresariado e da mídia mercantil. Se Evo Morales dá certo, quando o FHC de lá - o branco, que fala castelhano com sotaque inglês -, Sanchez de Losada, fracassou, é derrota das elites brancas, da mesma forma que se Lula dá certo, é derrota das elites brancas paulistanas dos Jardins e da empresa elitista e mercantil da Avenida Barão de Limeira. Emir Sader é sociólogo Artigo publicado originalmente no Blog do Autor
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