Lula, Tânia e o Nordeste por Armando Avena |
Meio Ambiente & Sustentabilidade | |||
Ter, 03 de Novembro de 2009 21:16 | |||
Quando se trata de Nordeste, minha amiga Tânia
Bacelar é a maior especialista do País. Professora da Universidade Federal de Pernambuco, Tânia foi secretária do
Planejamentoe da Fazenda no governo de Miguel Arraes, assessora de Ciro Gomes
no Ministério da Integração e trabalhou durante 30 anos na Sudene.
Ao longo de 20 anos, em nossas discussões sobre o Nordeste, um ponto foi sempre
consensual: não adianta ter uma política regional específica, o Nordeste só vai
superar seu subdesenvolvimento quando chegar o tempo em que se tornar
prioritário nas políticas nacionais. Esta semana, numa entrevista imperdível para o site Bahia Econômica, Tânia me disse: "Avena essetempochegou. A opção estratégica do governo Lula pelo mercado interno, aliada à política de transferência de renda e de aumento do salário mínimo beneficiou sobremaneira o Nordeste". Tânia argumenta que, diferentedoSul eSudeste,noNordeste mais de 50% de sua população ocupada ganha saládo rio mínimo, por isso o impacto do aumento salarial foi maior na região. O mesmo aconteceu com a transferência de renda. O Nordeste tem metade dos pobresdo País, assim dos R$ 12 bilhões distribuídos pelo Bolsa Família, mais da metade vem para o Nordeste ampliando o consumo e consequentementeo investimento. Nos doiscasos,"o que era desvantagem virou vantagem". Tânia afirma ainda que o aumento nos salários e a massa adicional de renda, aliadas à expansão do crédito, ampliou o consumo regional, que se expandiu mais do que no restante do País, pois, segundo o IBGE, entre 2003 e 2008, o maiorcrescimento do varejo no País, seu deu no Nordeste. A ampliação do mercado interno, baseado no consumo insatisfeito da população pobre, dinamizou a economia nordestina. E, naturalmente, quanto maior o consumo, maior o investimento. Além disso, Tânia ressalta que os investimentos públicos também estão ampliando as potencialidades da região. Essa é, segundo Tânia Bacelar, a explicação para o desenvolvimento recente do Nordeste e para a vinda de redes de supermercados, lojas de departamentos e investimento de toda ordem para a região. Para ela, o governo Lula e as políticas de transferências de renda colocaram milhares de nordestinos no mercado de consumo e isso está transformanentre saládo a região. A ascensão de Pernambuco Pernambuco é a bola da vez desse novo ciclo de desenvolvimento do Nordeste e Tânia Bacelar explica por que. Segundo ela, Pernambuco passou 30 anos criando infraestrutura, implantou um porto competitivo e um complexo industrial. Ou seja, tinha um ambiente bom para atrair investimentos. Esse potencial não era aproveitado e o Estado estava se desindustrializando, mas, no governo Lula, foi alavancado fortemente pela Petrobras epor outros investimentos públicos. Segundo ela, a Petrobras, cujo presidente é o baiano José Sérgio Gabrielli, voltou a investir em novas refinarias, está implantando uma de grande porte em Pernambuco, (além de duas outras no Ceará e Rio Grande do Norte) e investiu no complexo petroquímico de Suape. Além disso, a estatal passou a comprar navios fabricados no País e Pernambuco se beneficiou, pois montou um grande estaleiro e deverá implantar mais três. Tânia ressalta também os investimentos públicos, especialmente a Transnordestina, que vai beneficiar Pernambuco, mas também lembra a Ferrovia Oeste-Leste, na Bahia,que,junto comaTransnordestina, pode integrar os três grandes portos no Nordeste: Suape, em Pernambuco, Pecém, no Ceará, e o novo Porto de Ilhéus, como muitas vezes propusemos juntos nas reuniões do Ministério da Integração. Por fim a economista dá um crédito especial ao governador Eduardo Campos, o segundo mais bem avaliado do País, que, segundo ela, estabeleceu um ambiente favorável à atração de investimentos. A Vale na Bahia A Vale, maior empresa privada do País, controla o parque ferroviário baiano. Em1996, a empresa assumiu a concessão da Ferrovia Centro-Atlântica prometendo investir na modernização do sistema ferroviário estadual. Passados 13 anos, os investimentos da empresa na Bahia foram insignificantes. O resultado é que o ramal ligando Salvador a Juazeiro, com cerca de 500 quilômetros, está praticamente desativado, o transporte de cargas ferroviárias entre Salvador e Recife, não existe mais,tampouco oacesso ferroviário ao Porto de Salvador. A desativação do ramal transformanentre as localidades de Mapele (Simões Filho) e Paripe (Salvador), além de impedir o acesso das cargas ferroviárias ao Porto de Salvador, prejudicou a expansão do transporte ferroviário de passageiros na RMS. A Vale desbaratou o sistema ferroviário da Bahia, restando apenas, em funcionamento razoável, a ferrovia que liga o Porto de Aratu a São Paulo. Semana passada, a empresa anunciou os investimentos de R$ 24,5 bilhões para 2010 e reservou, 0,27% para a Bahia, para manter as estruturas existentes. Maranhão, Pernambuco e até Sergipe receberão muito mais. A Vale não temum planoferroviário para o Estado, não pensa em articular-se com a Ferrovia Leste-Oeste e mantém a sede da Ferrovia Centro Atlântica em Belo Horizonte. O governo do Estado precisa exigir da empresa mais investimentos no ramal ferroviário ou então retomar a concessão. Sem isso, continuaremos perdendo competitividade em relação a outros estados do Nordeste. Artigo publicado originalmente no Jornal A Trade, 31/10/2009 Armando Avena Escritor, economista e membro da Academia de Letras da Bahia Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
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Última atualização em Dom, 29 de Novembro de 2009 11:53 |
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