O que leva Dilma a dar entrevistas para jornais que vão sacaneá-la? Por Paulo Nogueira |
Dando o que Falar | |||
Qui, 27 de Agosto de 2015 03:40 | |||
Leio na internet que há 43 anos, num dia 23 de agosto, o mundo cunhou a expressão Síndrome de Estocolmo. Como todos sabemos, é aquela aberração psicológica pela qual vítimas podem desenvolver laços amorosos com seus agressores. Pensei nisso ao saber que Dilma decidira dar uma entrevista à Folha, ao Globo e ao Estadão. Os editores iriam aproveitar qualquer chance para colocá-la em situação constrangedora. E foi exatamente o que ocorreu. Os textos dos jornais se centraram no seguinte: Dilma admitiu que demorou para perceber o tamanho da crise. Apenas o El País, não interessado em arrasar Dilma, sublinhou um fato essencial para compreender a admissão: Dilma se referia à crise internacional. Mais especificamente, aos efeitos dela na economia brasileira. São duas coisas completamente diferentes. Dilma foi sacaneada, mas onde a surpresa? Do jeito que a coisa foi apresentada pela mídia, ficou a impressão de que Dilma confessou que os jornais estavam certos e ela errada. Comentaristas e políticos da oposição aproveitaram para atacá-la. Merval disse que Dilma fez, enfim, uma autocrítica. No G1, um leitor, que assina Almada, postou um comentário em que dizia que ele vinha alertando o governo fazia meses. O bom Almada deu até o endereço para que outros leitores leiam as preciosas advertências econômicas que ofereceu, nos últimos meses, a Dilma. Quer dizer: os jornais conseguiram se autocongratular, como voluntarioso Almada, pela cobertura sinistra que fizeram da crise econômica. O que houve de fato foi o seguinte. A Bolsa de Valores da China teve que explodir para os jornais reconhecerem, com enorme atraso, que a crise é mundial, e não local. Era estratégico restringi-la ao Brasil porque ficava mais fácil definir Dilma como incompetente. O dólar subiu no mundo inteiro nestes primeiros meses do ano, e você lia a imprensa brasileira e tinha a sensação de que isso ocorria apenas no Brasil. Idem para a crise do petróleo. Era coisa nossa. Quer dizer, dela, Dilma. Éramos uma ilha problemática num mundo repleto de soluções, na tese farisaica da mídia. A China teve que tropeçar para que a farsa fosse abandonada. Mas eis que Dilma decide conceder uma entrevista a jornais que tratam de massacrá-la todos os dias. Síndrome de Estocolmo, me ocorre. E então no noticiário que sai da entrevista Dilma é tratada como inepta. Quem deveria fazer uma autocrítica é a imprensa, que manipulou por meses seguidos seus leitores com a versão falsa de que a crise se restringia ao Brasil. Mas isso não virá. Com a contribuição de Dilma, a versão que a mídia propagará é que os jornais cansaram de avisar que a coisa estava feia. É definitivamente um mistério o que leva Dilma a conversar com publicações que jamais surpreenderão por tratá-la com decência. Sobre o AutorO jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo. Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-que-leva-dilma-a-dar-entrevistas-para-jornais-que-vao-sacanea-la-por-paulo-nogueira/
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