O impeachment e a divisão da oposição. Por Mauro Santayana |
Dando o que Falar | |||
Qua, 09 de Dezembro de 2015 03:44 | |||
Quando ainda se fazia política no país, antes do vale tudo em que se transformou a luta pelo poder nesta Nação, havia um velho homem público mineiro que, no rastro de Salomão, gostava de dizer que a política é como as estações do ano. Há o tempo de semear e o tempo de ceifar. O tempo de colher e o tempo de moer. O tempo de misturar e bater a massa. E o de acender o forno para assar e comer o que se preparou. O bom da Democracia, é que, a não ser que ocorram tragédias de grandes proporções, ela, como o clima, oferece um calendário próprio, que pode servir de parâmetro, para os mais argutos e prudentes, no estabelecimento de um necessário e cada vez mais desprezado – como meio – plano de rota, que possa levar ao objetivo que se pretende alcançar. O aumento da temperatura, ou efeito estufa, na cena política, que pode acabar prejudicando tanto a gregos como troianos, ocorre quando o papel dos partidos – espera-se que cada um tenha sua própria visão e seu próprio projeto para o país – é substituído por uma briga de foice em que um monte de cidadãos, individualmente, acredita que pode alcançar a Presidência da República, não interessando o momento ou o meio que vai utilizar para chegar lá. Há impeachments e impeachments. Na época do impedimento do Presidente Fernando Collor, havia um vice-presidente conciliador, em torno do qual se reuniu uma ampla aliança nacional, que era tão correto que se recusou a forjar uma alteração na constituição que lhe permitisse manter-se no poder por mais um mandato, e cujo maior erro – como depois admitiria mais tarde – foi escolher como sucessor um indivíduo que usurparia a maior conquista de seu governo, o Plano Real, e que, no lugar de cumprir o compromisso que tinha com ele de apoiá-lo para o pleito seguinte, tanto fez para não largar a rapadura que chegou até mesmo a ser acusado de comprar votos no Congresso para aprovar a lei que permitiu sua reeleição. Hoje, em caso do impedimento da Presidente Dilma, não há, como havia à época de Itamar Franco, o mesmo consenso em torno da figura do Vice-Presidente Michel Temer. O maior partido de oposição – teoricamente o mais interessado na saída de Dilma – apresentou, no TSE, pedido de cassação da chapa Dilma-Temer, vitoriosa nas eleições de um ano atrás, propondo a anulação do resultado e requerendo que se lhe entregue o poder, como coligação mais votada. Os tucanos querem a saída de Dilma, mas cada um em seu tempo e a seu modo. Se pudessem, prefeririam evitar a substituição da presidente por um vice que tem tudo para articular rapidamente a simpatia e as boas graças do “mercado”. Que depois poderia ser apresentado, contando com a estrutura de um dos maiores partidos do país, como um fortíssimo candidato nas eleições de 2018. Para Alckmin, e para José Serra, que estão de olho no Planalto, isso não seria bom. Alguns jornais informam que Serra pretende ser o Ministro da Fazenda de Temer, e seu candidato a Presidente, pelo PMDB. Mas aquele que já foi por duas vezes candidato pelo PSDB, como diria Garrincha, ainda não “combinou com os russos”, e muita água tende a rolar debaixo das pontes do Tietê antes que isso venha a ocorrer. Serra teria que vencer a resistência da ala mais nacionalista do partido, de construir algum tipo de liderança nele, sobrepondo-se a possíveis rivais, além de contar com a recusa de Michel Temer de continuar ocupando um lugar no qual já estará há algum tempo, com todas as prerrogativas que lhe reserva o cargo mais importante da República. Temer na Presidência, aliado a Serra, não seria desejável para Aécio Neves, que está na frente nas pesquisas de intenção de voto, entre os eventuais pré-candidatos. E, muito menos, ainda, para eventuais concorrentes “independentes” que aparentemente correm “por fora”, mas que têm um enorme apelo para o voto conservador e de extrema-direita nascido da campanha anti-petista dos últimos anos. Entre eles, pode-se nomear – por enquanto – Jair Bolsonaro e o próprio Juiz Sérgio Moro, que dividem os apelos “Bolsomito 2018”, e “Moro Presidente”, no espaço de comentários dos grandes portais nacionais, de onde a militância do PT desapareceu. Para muitas lideranças anti-petistas, ou com aspirações a sentar na principal cadeira do Palácio do Planalto, ideal seria que o governo Dilma “sangrasse”, atacado pela mídia conservadora nacional e estrangeira, pelos internautas fascistas, pela sabotagem econômica e no contexto judicial, pelos entreguistas e privatistas, e pelos oportunistas de todo tipo, até o último dia de seu mandato. Assim, eles teriam tempo para o fortalecimento de seus respectivos cacifes com vista a 2018, disputando entre si a preferência dos neoliberais, dos neo-anticomunistas, dos anti-petistas, dos anti-“bolivarianos”, dos anti-estatistas, dos anti-desenvolvimentistas e dos anti-nacionalistas de plantão. Um público cada vez mais radical, manipulado e desinformado que tem tudo para crescer como fungo, já que não existe nenhuma oposição ou reação estratégica, judicial, ou na área de comunicação minimamente detectáveis, por parte da esquerda – reunida quase que exclusivamente em seus próprios blogs, grupos e páginas de redes sociais – ou do Partido dos Trabalhadores em portais de maior audiência, como o UOL, o IG, o Terra, o MSN e o G1. O grande problema do PT no Brasil é a Internet, onde perdeu, sem esboçar qualquer reação coordenada, a batalha da comunicação. De nada adianta o ex-presidente Lula processar na justiça certo “historiador” de oposição por calúnias proferidas em uma entrevista, se dezenas, centenas, de internautas continuam a atirar contra ele os mesmos insultos e as mesmas mentiras, impunemente, todos os dias, sem serem interpelados judicialmente da mesma maneira. Se o primeiro deles tivesse sido impedido, na forma da lei, desde o início, o PT – e a própria Democracia, vilipendiada com pedidos de “intervenção militar” e a defesa pública da volta da ditadura e da tortura – não estariam na situação institucional em que se encontram. O grande drama da oposição no Brasil é o que fazer com o impeachment. Se Dilma sair do Palácio do Planalto agora, ficará difícil manter, contra Temer, a mesma campanha uníssona que existe, hoje, na imprensa e nos maiores portais da internet – por parte dos internautas de direita – contra o PT. Os ataques sofridos pela Presidência da República tenderiam a diminuir, e a enfraquecer em seu ódio e veneno, já que não daria, simplesmente, para transferir para esse novo Presidente da República, o papel de Geni encarnado pelo PT até agora. Finalmente, com Dilma fora do Planalto, será praticamente impossível manter a unidade das forças anti-petistas, que tendem a se lançar em uma guerra fratricida pelo Palácio do Planalto, que Michel Temer, do alto da cadeira presidencial, em caso do enfraquecimento de Lula, e de fragmentação da oposição, teria grande chance de vencer em 2018. Mauro Santayana, é um jornalista autodidata brasileiro. Artigo pulicado originalmente em http://www.correiodobrasil.com.br/o-impeachment-e-a-divisao-da-oposicao/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20151209
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