As contas de perde-ganha com Temer e Dilma. Por Luis Nassif |
Dando o que Falar | |||
Ter, 15 de Dezembro de 2015 04:00 | |||
As manifestações desse domingo trazem conclusões curiosas: O número de manifestantes frustrou os organizadores, mostrando que o populacho não reage mais ao simples apertar de botões.
A velha mídia entrou em uma sinuca de bico. Primeiro, alimentou a onda de intolerância, tornando-se prisioneira da própria armadilha montada. Não pode oferecer mais sangue do que oferece, sob risco de reduzir seu público a um tropel de trogloditas. Descontenta os trogloditas, que a acusam de pouco empenho, e descontenta os demais leitores que criticam a ausência de jornalismo. Depois, deflagrou o processo de impeachment e agora teme seus efeitos. Subordinar o jornalismo à política sem estratégia dá nisso, comprovando que a crise de liderança que acomete os três poderes não poupou igualmente o quarto. O fracasso das manifestações, no entanto, não zera o jogo do impeachment. Os próximos capítulos serão decisivos e se darão em torno de três campos. O campo econômicoA conta dos deputados – entre ficar com o governo ou embarcar na aventura Michel Temer – levará em consideração a maneira como enxergam o futuro da economia em cada alternativa. Qual seria a pior aposta: chegar em 2018 carregando o fardo Dilma ou o fardo Temer? Beneficiar-se de ser anti-Dilma ou anti-Temer? A tal Ponte para o Futuro de Michel Temer, se bem explicada, é um filme de terror não apenas para os beneficiários de programas sociais. Significará subordinar o país a um modelo econômico que produziu os maiores níveis de desemprego na Europa, liquidando com o estado de bem-estar europeu. Significará abortar qualquer política industrial, regredir na implantação de universidades federais, eliminar o acesso dos mais pobres ao ensino superior, destruir a rede de proteção social duramente conquistada pelo país. Essa conta será cobrada em 2018 de quem aderir ao impeachment. Mas o que Dilma tem a oferecer em contraposição? Até agora, apenas o ajuste fiscal de Joaquim Levy. Ou seja, outro filme de terror. Dilma tem o ônus e o benefício de estar no poder. A cada dia que passa, o aprofundamento da crise torna mais palatável a alternativa Temer. Por outro lado, assim que apresentar uma estratégia econômica minimamente viável, recupera o protagonismo. Com doze meses de atraso, há dois desafios (que ficaram enormes pela demora em serem enfrentados) pela frente: um movimento estratégico impedindo o aprofundamento da crise; uma visão de futuro. A estratégia para segurar a crise passa por três movimentos óbvios:
Nas conversas com parlamentares, não se trata apenas da falta de sensibilidade política de Joaquim Levy, valendo-se do viés economicista de acenar com o fim do mundo, em vez de trabalhar o início da criação. Em Brasília brinca-se que ele tem uma carta de demissão plastificada, tantas foram às vezes que sacou do bolso para tentar impor seu ponto de vista. Tem-se um quadro complexo para 2016, com a crise fiscal dos estados e uma inadimplência generalizada das empresas. O desafio maior será estancar essa queda para poder acenar com o próximo tempo. O tempo de Levy acabou. E não basta apenas substituí-lo. Tem que ser por alguém com visão estruturada da economia, capacidade de juntar todas as peças do jogo econômico e com total aval de Dilma. Há uma bomba atômica disponível para quem souber usá-la. Pode ser a saída para a crise ou poderá ser o dia do juízo final: o uso criterioso de parte das reservas cambiais em programas de investimentos em infraestrutura e de recuperação do parque industrial. Quadro socialÉ trunfo para Dilma. O agravamento da crise de emprego atiçará mais os ânimos gerais, seja com Dilma ou Temer. Mas, com o impeachment, haverá um ingrediente explosivo a mais.
Por outro lado, enquanto não apresentar um programa com ideias claras, não se saberá qual o lado de Dilma. A bandeira em torno dela é de defesa da legalidade, contra o golpe. Derrubada a tese do impeachment, se o governo Dilma continuar inerte, ninguém segurará as ruas em 2016. Quadro políticoAté agora, o presidencialismo de coalizão – inaugurado por Fernando Henrique Cardoso, mantido por Lula e Dilma – consistia em lotear cargos para garantir o controle do orçamento e a implementação das políticas centrais. Em vez de aspirar, Temer propõe coalizão injetável: repartir o orçamento. Trata-se da proposta mais irresponsável de loteamento político desde os infaustos tempos do governo José Sarney. A estratégia de Dilma deverá ser mostrar a inviabilidade desse modelo, ainda mais em um quadro de crise fiscal. Não há o que repartir. Se tirar da saúde e da educação, em 2018 a cobrança dos eleitores será fatal. Fica claro que se trata de uma cenoura visando abrir espaço para os novos donos efetivos do poder, Temer e seu grupo associados aos tucanos de José Serra – que levarão seu quinhão com a aprovação de uma nova lei do petróleo. Eles ficarão com os cargos; os parlamentares com a promessa de controlar um orçamento quebrado e com a conta da impopularidade em 2018. Artigo publicado originalmente em http://jornalggn.com.br/noticia/as-contas-de-perde-ganha-com-temer-e-dilma
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