Os truques da mídia para ludibriar o públoco na questão das delações premiadas. Por Paulo Nogueira |
Dando o que Falar | |||
Sex, 04 de Março de 2016 01:05 | |||
Os truques da mídia para ludibriar o público ingênuo na questão das delações premiadas são patéticos. Você tem que ser um completo analfabeto político para engolir a manipulação. É assim. Se o citado na delação é o Aécio, por exemplo, a imprensa toma todos os cuidados. Tudo vai na condicional. Fulano alegou, afirmou etc etc. Segundo o delator etc etc. O desmentido aparece com destaque. Rapidamente a delação desaparece do noticiário. Muitas vezes não fica sequer um dia. Isso não se altera nem quando o citado aparece, como Aécio, em três diferentes delações. Agora. Quando os personagens mencionados na delação são os inimigos, os métodos são outros. Todas as condicionais do bom jornalismo são abandonadas. O delator não “afirma”: “revela”. “Confirma”. Onde havia dúvida, aparece a certeza. É o caso da alegada delação de Delcídio. Lula e Dilma estão nela? É uma festa. O diretor de novas mídias da Globo, Erick Bretas, representa à perfeição este estado de espírito. No Facebook, em plena maternidade, onde sua mulher estava dando à luz, ele postou o seguinte. “Na maternidade vejo a notícia de que Delcídio delatou Dilma e Lula. Que Dilma nomeou ministros do STJ para barrar as investigações da Lava Jato e que Lula comandava a corrupção na Petrobras. Nossos filhos não merecem um país assim. Dilma tem que cair e Lula tem que ser preso.” Para escrever algo assim, Bretas tem que estar certo de que a Globo aprova. Ele não correria risco de desagradar os patrões. Você pode avaliar, por aquele post histérico, o ambiente pró-golpe nas redações do Grupo Globo. Note. Ele conferiu uma estatura de Catão a Delcídio, um homem incapaz de mentir para se safar de alguma enrascada. Deu à IstoÉ o status de uma revista séria, confiável. E julgou sumariamente Dilma e Lula. Eu, aqui do meu canto, diria: “Meus filhos não merecem a Globo e nem jornalistas como Bretas.” Mas o que importa, aqui, é notar a diferença de tratamento nas delações. Claro que Delcídio vai ficar nas manchetes, no Jornal Nacional, nas primeiras páginas dias, e dias, e dias. Porque, neste noticiário, você joga Lula e Dilma na lama. Pelo menos para os analfabetos políticos esse truque funciona. A palavra de Delcídio na alegada delação vira verdade absoluta para os que acreditam na honestidade e nos bons propósitos de jornais e revistas. Se o alvo é Aécio, a sombra e o silêncio, espaços mínimos e o sumiço. Se é Lula e Dilma, o estardalhaço contínuo – e a imediata alusão a impeachment e prisão, como escreveu, em plena maternidade, Erick Bretas. Não fosse a internet, com o contraponto, a situação estaria perdida, como esteve para Getúlio e para Jango. Mas a internet, com as redes sociais e sites independentes, é um foco de resistência contra os que tentam, mais uma vez, destruir a democracia, como fizeram em 1054 e em 1964. Nós, sites independentes e redes sociais, não somos tudo – mas também não somos nada. Já é alguma coisa.
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