Por que Lula deveria ser Ministro. Por Paulo Nogueira |
Dando o que Falar | |||
Dom, 13 de Março de 2016 02:51 | |||
“Ficaria decepcionada se o Lula aceitasse um convite para ser ministro”, ouço de minha mulher, Erika. Não tinha ainda refletido detidamente sobre o assunto, mas a frase de Erika me estimulou a fazer isso. Por que alguém progressista como ela se decepcionaria? A resposta padrão é mais ou menos esta: Lula ganharia foro privilegiado e se livraria das garras de Moro, mas mostraria medo. Ficaria claro, para muita gente, que ele tem algo a esconder. Ora, ora, ora. Não poderia discordar mais. Se Lula estivesse numa disputa com Mujica ou com o papa Francisco, eu concordaria. Mas ele está medindo forças – involuntariamente – com forças que lembram não Mujica, não Francisco, mas Al Capone. Você tem que jogar o jogo conforme seu adversário, e não de acordo com seus sonhos. Esta é a realidade. Pode não ser idílica, ou utópica, ou romântica. Mas esta é a única realidade que temos. Avalie os escrúpulos e o caráter dos que estão do outro lado. A Globo e a família Marinho, Aécio, FHC, a Veja e os Civitas, a Folha e os Frias, Moro e a PF, e isso para não falar dos Eduardos Cunhas e dos Conserinos. Eles querem preservar seus formidáveis privilégios, e para isso buscam loucamente um golpe sob os pretextos mais esdrúxulos. Desde a saída dos resultados, a vitória de Dilma é contestada da maneira mais infame possível. A desculpa A não colou? Vamos para a B. Também ela não vingou? Passemos para a desculpa C. E nisso foi um alfabeto inteiro de pretextos que escondiam uma única coisa: um golpe. Um crime de lesademocracia que jogaria, ou jogará, o país mais de meio século para trás. Os índios americanos entraram na história por episódios de resistência épicos em que opunham pedrinhas às balas dos predadores brancos. É lindo, é comovente, mas é claro que eles usariam outras armas se as tivessem. Contra predadores, e é disso que se trata, você tem que ajustar sua estratégia à índole dos inimigos. Lula já errou demasiadamente nisso. Por exemplo. FHC nomeou um amigo para a Procuradoria Geral da República, o tristemente famoso Brindeiro, engavetador de qualquer coisa que pudesse embaraçar a presidência. Lula se recusou a nomear uma réplica de Brindeiro. Colocou o primeiro da lista que lhe foi passada pelos procuradores. Deu no que deu. No STF, ele fez o mesmo. FHC indicou juízes como Gilmar Mendes. Uma das primeiras indicações de Lula foi Eros Grau, de conhecida simpatia pelo PSDB. (Fez campanha por Aécio em 2014.) Isso não é republicanismo. É ingenuidade, é tolice, é não enxergar do que são capazes os que detestam você. A direita prega para os rivais um republicanismo que ela jamais praticou. A hora dura pede ousadia, pede inovação. Lula como ministro é uma resposta a quem deseja apenas tirar Dilma do jeito que for e impedir que Lula concorra em 2018. A reação popular seria esta. Os que detestam Lula continuariam a detestá-lo. Os que o amam continuariam a amá-lo. Que as urnas digam, em 2018, qual destes grupos é maior. Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-lula-deveria-sim-ser-ministro-por-paulo-nogueira/
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