Como será o dia seguinte caso a traição de Temer triunfe. Por Paulo Nogueira |
Dando o que Falar | |||
Qua, 13 de Abril de 2016 03:10 | |||
O pior pecado depois do pecado é a publicação do pecado. É uma das minhas frases favoritas. O autor é Machado de Assis. Ela se aplica à perfeição ao áudio vazado em que Michel Temer festeja, antecipadamente, a vitória do golpe. Em si, é uma infâmia, um despropósito, uma manifestação de pequenez. Publicado, o vídeo é ainda pior: é o símbolo da traição de um homem que conseguiu com ele disputar com Eduardo Cunha o título de pessoa mais desprezível da República. Temer além de tudo é um sem noção. Ele acha que terá qualquer chance de conciliar os brasileiros? De promover um governo de salvação, do alto de sua majestosa insignificância? Se sim, não é um caso apenas de traição, mas também de insanidade mental. Imagine que o golpe afinal vingue. Temer não terá um minuto de trégua. Os golpistas receberão, em dobro, tudo o que fizeram para atormentar Dilma e impedi-la de governar. Todos sabem a capacidade do PT como oposição. Tanto mais depois de ser roubado descaradamente. E a militância, como se comportará? Greves, protestos se espalharão imediatamente pelo país. Importante: não serão apenas os petistas que sairão às ruas. Todos os progressistas que nas últimas semanas se ergueram contra o golpe farão o mesmo. Em sua descomunal miopia, Temer talvez imagine que o apoio da Globo e da mídia vá garantir-lhe governabilidade. Só que a perda de influência da imprensa tradicional é um dado da vida. O Jornal Nacional passou semanas massacrando Lula e eis que, em vez de incinerado, ele surgiu na liderança na corrida presidencial. Como a Veja, o JN, de tanto abusar da ingenuidade de seus telespectadores, passou a ser acreditado apenas por um grupo limitado. Não convence mais ninguém porque sua credibilidade, como a da Veja, desceu a zero. Não vai adiantar Temer abrir os cofres públicos para a Globo, o que certamente ocorrerá. A Globo não terá como melhorar sua vida. É previsível que ocorram choques nas ruas. Policiais militares de todas as partes baterão em manifestantes, mas isso só multiplicará a raiva e a revolta. Marco Aurélio Mello, um dos raros focos de luz nesta imensa escuridão em que se transformou o país, alertou para o pior. A polícia, incapaz de pacificar o país, pode ser substituída pelos militares. E então o país poderia voltar a 1964. É uma distopia brutal, mas não há como ignorá-la. O mais provável – se o golpe vingar – é que diante do quadro de caos total sejam chamadas eleições presidenciais imediatamente. E então Temer será forçado a enfrentar as urnas, como um vampiro que enfrenta o sol. Temer se recolherá, para sempre, ao monturo da história como o bufão traidor que falou em salvar o país sem conseguir sequer salvar a si próprio da miséria e do desprezo eternos. Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/como-sera-o-dia-seguinte-caso-a-traicao-de-temer-triunfe-por-paulo-nogueira/
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