Governo mortífero e corrupto. Por Jeferson Miola |
Dando o que Falar | |||
Qui, 01 de Julho de 2021 06:45 | |||
O governo militar está cada vez mais afogado num mar de corrupção e mortes [aqui]. Além de causar o morticínio de dimensões catastróficas, também operou um macabro e bilionário esquema de corrupção na negociação de vacinas. A incrível velocidade de tramitação e as condições fraudulentas negociadas para a compra da Covaxin contrastam com a lentidão governamental nas tratativas com fornecedores de outras vacinas. O fator que explica este contraste, mais além da visão anti-ciência e da incompetência oficial, sabe-se agora, chama-se propina. Como escreveu Tereza Cruvinel, “Bolsonaro pessoalmente embarreirou o quanto pode a compra da Coronavac. E agora podemos pensar que o problema não era pela origem chinesa ou pelo protagonismo do governador João Dória no acordo inicial com o fabricante Sinovac”. O representante da empresa Davati Medical Supply, Luiz Paulo Dominguetti, declarou ao jornal Folha de São Paulo ter sido achacado a pagar 1 dólar por dose a título de propina para conseguir fechar contrato de fornecimento de 400 milhões de doses de AstraZeneca. À cotação do dia, significa um assalto de 2 bilhões de reais aos cofres públicos – o suficiente para a concessão de auxílio emergencial de 600 reais a 3,3 milhões de pessoas necessitadas. A propina foi pedida por Roberto Ferreira Dias, o diretor de logística do ministério da Saúde indicado para o cargo pelo líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros/PP, que estava acompanhado pelo coronel da reserva Marcelo Blanco da Costa, que às vésperas do encontro com Dominguetti [25/2] “coincidentemente” abriu empresa de representação comercial de medicamentos e produtos médico-hospitalares e odontológicos. Dominguetti explicou que “aí depois nós tentamos por outras vias, tentamos conversar com o Élcio Franco [coronel da reserva do Exército], explicamos para ele a situação também, não adiantou nada. Ninguém queria vacina” – salvo, claro, se tivesse pagamento de propina! Como afirmou Tereza Cruvinel, “Roubar na compra de vacinas não é só roubar dinheiro público. É matar brasileiros com a demora na aquisição, em busca de negócios sujos”. Se a postura do governo nas negociações entabuladas a partir de maio/2020 para a compra de outras vacinas tivesse sido a mesma que a adotada nas negociatas da Covaxin, a imunização da população brasileira teria iniciado bem antes, e o país estaria em estágio avançado de cobertura vacinal. Isso significa, portanto, que milhões de pessoas não teriam sido contaminadas e centenas de milhares de mortes teriam sido evitadas. Epidemiologistas estimam que cerca de 390 mil das 516 mil vidas perdidas [3 a cada 4 delas] até hoje poderiam ter sido preservadas. Este é o governo mais mortífero da história; é responsável por perdas humanas equivalentes às baixas do Brasil em 10 guerras do Paraguai. É, também, o mais corrupto da história. O esquema bilionário de corrupção no ministério da Saúde sob a gestão militarizada de Eduardo Pazuello, o general da ativa do “um manda, o outro obedece”, pode ser indicativo de lógicas corruptas disseminadas na administração federal. A sociedade brasileira ainda precisa conhecer outras “tenebrosas transações” que possam estar ocorrendo também em outras esferas do governo no marco deste brutal processo de dissolução e liquidação nacional executado pelo governo militar. Os militares estão perdendo o discurso falso-moralista contra a corrupção que bradavam para conspirar e tomar o poder. Por outro lado, aumenta a crise de legitimidade do regime e diminui sensivelmente a confiança da população nas Forças Armadas. As mobilizações populares e democráticas de rua, retomadas massivamente em 29 de maio e 19 de junho, são o combustível decisivo para obrigar o presidente da Câmara a autorizar o processo de impeachment do Bolsonaro no Senado e o julgamento dele por crimes comuns no STF. O impeachment do Bolsonaro, esta grande urgência nacional, é um passo fundamental a ser dado para se deter a escalada militarista e se dar início à reconstrução do Estado de Direito e da democracia no Brasil. Jeferson MiolaIntegrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial
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