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Agora os Democratas são o Partido da Guerra. Por Chris Hedges
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Dando o que Falar
Ter, 27 de Dezembro de 2022 07:06

chris-hedgesOs Democratas se posicionam como o partido da virtude, camuflando o seu apoio à indústria da guerra com uma linguagem moral, remontando às guerras na Coreia e no Vietname, quando o presidente Ngo Dinh Diem foi tão celebrado quanto o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Todas as guerras que eles apoiaram e financiaram foram guerras “boas”. Todos os inimigos contra quem eles lutam – os mais recentes sendo Vladimir Putin da Rússia e Xi Jinping da China – são encarnações do mal. A foto de uma radiante presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi e da vice-presidente Kamala Harris exibindo uma bandeira de batalha ucraniana assinada atrás do Zelensky quando ele falava para o Congresso estadunidense foi mais um exemplo da abjeta subserviência do Partido Democrata à máquina de guerra.

Especialmente durante a presidência de Bill Clinton, os Democratas se tornaram cúmplices não só das corporações estadunidenses, mas também dos fabricantes de armamentos e do Pentágono. Não importando quão desastrosas sejam, nenhuma guerra fica sem financiamento. Nenhum orçamento militar é grande demais – incluindo os US% 858 bilhões alocados para gastos militares neste ano, um aumento de US$ 45 bilhões acima daquilo que o governo Biden solicitou.

O historiador Arnold Toynbee citou o militarismo não-controlado como a doença fatal dos impérios, argumentando que, em última análise, eles cometem suicídio.

Uma vez houve uma ala do Partido Democrata que questionou e levantou-se contra a indústria de guerra: entre eles os senadores federais J. William Fulbright, George McGovern, Gene McCarthy, Mike Gravel, William Proxmire e o representante [deputado] federal Dennis Kucinich. Mas aquela oposição se evaporou, juntamente com o movimento contra a guerra. Quando 30 membros da facção progressista do partido publicaram recentemente uma conclamação para Biden negociar com Putin, eles foram forçados a recuar pela liderança do partido e as mídias militaristas a rescindir a sua carta. Não que qualquer um deles, com exceção da deputada Alexandria Ocasio-Cortez, tivesse votado contra os bilhões de dólares em armamentos enviados à Ucrânia, ou ao orçamento militar inflado. A deputada Rashida Tiaib votou como presente.

oposição ao perpétuo financiamento da guerra na Ucrânia veio basicamente dos Republicanos, 11 no Senado e 57 na Câmara dos Representantes; alguns deles, como Marjorie Taylor Greene, sendo desequilibrados teóricos da conspiração. Apenas nove Republicanos da Câmara uniram-se aos Democratas em apoio ao projeto de lei de US$ 1,7 trilhões de gastos necessários para evitar que o governo fique sem verbas para funcionar, incluindo a aprovação de US$ 847 bilhões para as forças militares – o total é impulsionado para US$ 858 bilhões quando se computam as contas que não se incluem sob a jurisdição do comitê [legislativo] das Forças Armadas. No Senado, 29 Republicanos se opuseram ao projeto de lei de gastos. Os Democratas, incluindo quase todos os 100 membros da Facção Progressista da Câmara Federal, perfilaram-se obedientemente à favor da guerra sem fim.

Esta lascívia pela guerra é perigosa, ela nos empurra para uma potencial guerra com a Rússia e, talvez mais tarde, com a China – cada uma delas sendo uma potência nuclear. Isto também é economicamente ruinoso. A monopolização do capital pelos militares elevou a dívida interna dos EUA acima de US$ 30 trilhões - US$ 6 trilhões a mais do que o PIB de US$ 24 trilhões dos EUA. O serviço financeiro desta dívida custa US$ 300 bilhões por ano. Nós gastamos mais com as forças militares do que os nove países seguintes do mundo, incluindo a China e a Rússia combinadas. O Congresso dos EUA também está pronto para prover US$ 21,7 bilhões adicionais para o Pentágono – em adição ao orçamento anual já expandido – para reabastecer a Ucrânia.“Porém, estes contratos são apenas a primeira parte daquilo que está se configurando como uma nova grande expansão das verbas para a defesa”, reportou o The New York Times. “Os gastos militares do próximo ano estão prestes a alcançar o seu mais elevado nível em cálculos ajustados à inflação desde os ápices das guerras no Iraque e no Afeganistão entre 2008 e 2011, e o segundo nível mais alto em termos ajustados à inflação desde a Segunda Guerra Mundial – um nível que é maior do que os orçamentos combinados das próximas 10 agências do governo.

O Partido Democrata, que durante o governo de Clinton cortejava agressivamente os doadores corporativos, renunciou à sua disposição de desafiar a indústria da guerra, mesmo que de maneira morna.

“Assim que o Partido Democrata tomou uma decisão – poderia ter sido há 35 ou 40 anos – de que eles aceitariam contribuições das corporações, isso fez desaparecer qualquer distinção entre os dois partidos”, disse Dennis Kucinich quando eu o entrevistei no meu show para o The Real News Network. “Porque em Washington, quem paga o flautista encantador [da estória dos ratos] é quem comanda a música. É isso que ocorreu. Não há muita diferença entre os dois partidos no que tange à guerra”.

No seu livro de 1970 ‘The Pentagon Propaganda Machine’ [A Máquina de Propaganda do Pentágono – sem tradução], J. William Fulbright descreve como o Pentágono e a indústria de armamentos despejam milhões de dólares para modelar a opinião pública através de campanhas de relações públicas, filmes do Departamento de Defesa, controle sobre Hollywood e a dominação das mídias comerciais. Os analistas militares que aparecem no noticiário via cabo são universalmente antigos oficiais militares e de inteligência que estão nos conselhos administrativos de corporações, ou trabalham como consultores das indústrias de armamentos – um fato que eles raramente revelam para o público. Barry R. McCaffrey, um general de quatro estrelas aposentado e analista militar da rede televisiva NBC News, também foi um empregado da empresa ‘Defense Solutions’ – uma firma de gerenciamento de projetos e vendas militares. Como a maioria destes cúmplices das guerras, ele lucrou pessoalmente das vendas de sistemas de armamentos e da expansão das guerras no Iraque e no Afeganistão.

Às vésperas de cada voto do Congresso dos EUA sobre o orçamento do Pentágono, os lobistas dos negócios ligados à indústria da guerra se encontram com membros do Congresso e suas equipes para empurrá-los a votar à favor do orçamento para proteger os empregos nos seus distritos eleitorais ou seus estados. Esta pressão, juntamente com o mantra amplificado pelas mídias de que qualquer oposição aos gastos perdulários para o financiamento da guerra é antipatriótico, mantém as autoridades eleitas sob servidão. Estes políticos também dependem das pródigas doações destes fabricantes de armamentos para financiar as suas campanhas eleitorais.

No seu livro ‘Pentagon Capitalism: The Political Economy of War’ [Capitalismo do Pentágono: a Economia Política da Guerra], Seymour Melman documentou a maneira pela qual as sociedades militarizadas destroem as suas economias domésticas. São gastos bilhões de dólares na pesquisa e desenvolvimento de sistemas de armas, enquanto as verbas para as tecnologias de energias renováveis definham. As universidades estão inundadas com doações relacionadas com os serviços militares, enquanto elas lutam para encontrar dinheiro para estudos ambientais e para as humanidades. Pontes, estradas, diques, ferrovias, portos, redes elétricas, usinas de tratamento de esgotos e infraestruturas para água potável estão estruturalmente deficientes e antiquadas. As escolas estão em ruínas e carecem de professores e funcionários suficientes. Sendo incapazes de estancar a pandemia do COVID-19, a indústria de serviços de saúde para o lucro forçam as famílias à entrarem em falência – incluindo aquelas que têm seguros de saúde. As manufaturas domésticas colapsam – especialmente devido à exportação de empregos para a China, o Vietname, o México e outras nações. As famílias estão se afogando em dívidas pessoais, com 63% dos estadunidenses vivendo de contracheque a contracheque. Os pobres, os doentes mentais, os doentes em geral e os desempregados estão abandonados.

Melman - que cunhou a expressão “economia de guerra permanente” - assinalou que, desde a Segunda Guerra Mundial, o governo federal dos EUA gastou mais da metade do seu orçamento discricionário em operações militares passadas, atuais e futuras. Esta é a maior atividade singular continuada do governo. O ‘establishment’ militar-industrial é nada mais do que a segurança social corporativa dourada. Os sistemas militares são vendidos antes de serem produzidos. É permitido às indústrias militares cobrar antecipado do governo federal dos EUA por enormes excessos de custos. Os lucros massivos são garantidos. Por exemplo, no último mês de novembro, o Exército contemplou só à empresa Raytheon Technologies [da qual é oriundo o atual Secretário de Defesa, general aposentado Lloyd James Austin III] mais de US$ 2 bilhões em contratos, em adição aos mais de US$ 190 milhões pagos em agosto, para entregar sistemas de mísseis para expandir ou reabastecer os armamentos enviados à Ucrânia. Apesar do mercado deprimido da maior parte dos outros negócios, os preços das ações da Lockheed e da Northrop Grumman se elevaram em mais de 36% e 50%, respectivamente, neste ano.

As gigantes da tecnologia, incluindo a Amazon, que abastecem as polícias e o FBI com softwares de vigilância e reconhecimento facial foram absorvidas na economia de guerra permanente. Amazon, Google e Oracle foram agraciados com contratos multi-biliardários em dólares por contratos de computação em ‘nuvens’ para o programa ‘Joint Warfighting Cloud Capability’ [Capacidade Conjunta de Guerra com Nuvens] que as torna elegíveis para receber US$ 9 bilhões do Pentágono em contratos para prover as forças militares até meados de 2028 com “serviços de nuvem disponíveis globalmente em todos os campos de segurança e níveis de classificação, do nível estratégico ao nível da borda tática”.

Ajuda militar é dada a outros países como Israel, totalizando mais de US$ bilhões em assistência bilateral desde a sua fundação em 1948, ou o Egito, que recebeu mais de US$ bilhões desde 1978 – ajudas que requerem que os governos estrangeiros comprem sistemas de armamentos dos EUA. O público estadunidense financia a pesquisa, o desenvolvimento e a construção de sistemas de armas e os compra para governos estrangeiros. Tal sistema circular zomba da ideia de uma economia de livre-mercado. Estes armamentos logo se tornam obsoletos e são substituídos por sistemas de armas atualizados e geralmente mais caros. Em termos econômicos, este é um beco sem saída. Ele sustenta nada mais do que a economia da guerra permanente.

“A verdade desta questão é que nós estamos em uma sociedade pesadamente militarizada, impulsionada por ganância, lascívia por lucros e guerras criadas apenas para seguir alimentando isso”, Kucinich me disse.

Em 2014, os EUA apoiaram um golpe de estado na Ucrânia, o qual instalou um governo que incluía neonazistas e era antagônico à Rússia. ,O golpe detonou uma guerra civil quando os russos étnicos da Ucrânia oriental, o Donbass, tentou separar-se do país, resultando em mais de 14.000 pessoas mortas e quase 150.000 deslocadas, antes que a Rússia invadiu em fevereiro último. Segundo Jacques Baud, um ex-conselheiro de segurança da OTAN que também trabalhou para o serviço de inteligência suiço, a invasão russa na Ucrânia foi instigada pelo agravamento da guerra da Ucrânia no Donbass. Isto também se seguiu à rejeição pelo governo Biden das propostas enviadas pelo Kremlin no final de 2021 – as quais poderia ter evitado a invasão russa no ano seguinte.

Esta invasão levou à expansão das sanções dos EUA e da União Europeia contra a Rússia, as quais tiveram um efeito bumerangue na Europa. A inflação está devastando a Europa com a aguda redução nos embarques de petróleo e gás russos. A indústria está alijada, especialmente na Alemanha. Na maior parte da Europa, este é um inverno de escassez, preços em alta e miséria.

“Esta coisa toda está explodindo na cara do Ocidente”, advertiu Kucinich. “Nós forçamos a Rússia a virar-se para a Ásia, bem como ao Brasil, a Índia, a China, a África do Sul e a Arábia Saudita. Todo um novo mundo está sendo formado. O catalizador disso é o erro de julgamento que ocorreu sobre a Ucrânia e o esforço de tentar controlar a Ucrânia em 2014 – algo sobre o que a maioria das pessoas não têm consciência.

Ao não se opor a um Partido Democrata cujo principal negócio é a guerra, os liberais se tornaram sonhadores estéreis e derrotados – como no livro ‘Notes from the Underground’ [Memórias do Subsolo (sic), melhor seria Anotações da Clandestinidade] de Fyodor Dostoiévski.

Sendo um ex-prisioneiro, Dostoiévski não temia o mal. Ele temia uma sociedade que não tinha mais a coragem de confrontar o mal. E a guerra é o maior mal - roubando uma linha do meu livro mais recente.

Chris Hedges

Jornalista vencedor do Pulitzer Prize (maior prêmio do jornalismo nos EUA), foi correspondente estrangeiro do New York Times, trabalhou para o The Dallas Morning News, The Christian Science Monitor e NPR.

Artigo publicado originalmente no Substack. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz

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