Lula flerta com Montezuma. Por Pepe Escobar |
Dando o que Falar | |||
Sex, 17 de Fevereiro de 2023 05:06 | |||
Montezuma rendeu-se prontamente aos recém-chegados espanhóis, sem esboçar qualquer resistência, ajudando os colonizadores europeus a governar até a sua morte Montezuma foi o último imperador de fato dos Astecas. Sabe-se que durante o seu reinado o Império Asteca atingiu o seu auge em termos de atividade expansionista, reformas políticas e construção de infraestrutura. Por outro lado, conforme a versão mais popular, Montezuma rendeu-se prontamente aos recém-chegados espanhóis, sem esboçar qualquer resistência, traindo seu povo e ajudando os colonizadores europeus a governar até a sua morte. Em sua segunda viagem oficial, o presidente Lula visitou os EUA. O embaixador brasileiro em Washington, um notório Olavo-bolsonarista que inexplicavelmente continuava a exercer seu cargo, e que tirou férias durante a viagem presidencial e não foi receber Lula no aeroporto. Capricho bolsonarista ou veto pela Casa Branca ? Nunca saberemos com certeza. Por outro lado, mesmo esnobado pelos seus, Lula foi recebido com pompa pela administração Biden. A linguagem corporal do casal Lula e de sua comitiva, em geral, e do mandatário brasileiro, em particular, demonstrava um júbilo pouco observado entre estadistas que comandam potências econômicas do calibre dos BRICS. “Os dois líderes também examinaram ampla gama de questões globais e regionais de interesse mútuo. Ambos os presidentes lamentaram a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de partes de seu território como violações flagrantes do direito internacional e conclamaram uma paz justa e duradoura. Os líderes expressaram preocupação com os efeitos globais do conflito na segurança energética e alimentar, especialmente nas regiões mais pobres do planeta e externaram apoio ao funcionamento pleno da Iniciativa de Grãos do Mar Negro. Os Presidentes Lula e Biden tencionam fortalecer a cooperação em instituições multilaterais, inclusive no contexto da vindoura presidência brasileira do G20. Os dois líderes expressaram a intenção de trabalhar juntos para uma reforma significativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como a expansão do órgão para incluir assentos permanentes para países na África e na América Latina e Caribe, de modo a torná-lo mais representativo dos membros da ONU e aperfeiçoar sua capacidade de responder mais efetivamente às questões mais prementes relacionadas à paz e à segurança globais.” Em diplomacia, as palavras e o gestual contam muito. E Lula continua insistindo em uma narrativa toda sua, de que a Rússia errou e não deveria ter entrado na Ucrânia e anexado os territórios visados pelos nazistas no poder em Kiev, mas sim negociar uma solução pacífica para o conflito. Mesmo depois das entrevistas de Merkel e Hollande, em que estes admitem toda a farsa encenada nos acordos de Minsk com o objetivo de armar a Ucrânia, sem contar as inúmeras provas e evidências de crimes de guerra, bem como abuso e supressão de direitos, perpetrados contra a população russófila ucraniana desde o golpe de Maidan em 2014. E estes fatos básicos, agora permanentemente anotados na cartilha de qualquer analista geopolítico minimamente sério, sequer compõem sozinhos o quadro completo. No quadro panorâmico da situação geopolítica contemporânea, temos o declínio vertiginoso do Império Anglo-saxão, arrastando junto com ele seus vassalos europeus, a OTAN e a sua ordem internacional baseada em regras. O declínio inexorável do dólar, do euro e das outras moedas da cesta imperial é a este ponto inevitável. A Operação Militar Especial Russa na Ucrânia é apenas o salvo de abertura de um conflito vindouro muito mais amplo intenso, envolvendo a China, o Irã e outros países do Sul Global que estão se articulando para consolidar a Ordem Multipolar longe da agenda imperial estadunidense. Ou seja, o quadro é de mudança sistêmica. Será que Lula não percebe isso? Difícil concluir a partir de suas declarações e primeiras ações. Por exemplo, durante a visita de Lula aos EUA, o Brasil negou acesso de navios Iranianos a portos brasileiros sem qualquer motivo convincente. Voltando ao comunicado conjunto, temos referências ao gerenciamento conjunto da Amazônia, para prevenir mudanças climáticas, com o Brasil sinalizando a disposição em ceder soberania sobre a região em troca de acesso a fundos irrisórios, se comparados ao seu próprio potencial econômico e oferecidos por países com tradição colonialista, agora em profundas dificuldades econômicas. E claro, a inevitável miríade de platitudes sobre a democracia, como se os regimes democráticos em vigência no Brasil e nos EUA fossem comparáveis. A menção à invasão do Congresso insinua uma ingenuidade inquietante. Será que o mandatário brasileiro ignora ter sido este um ensaio de Maidan tropical articulado pelos EUA ? Assim, nos primeiros meses de seu governo, Lula se revela um líder confuso e vacilante. Incapaz de delinear uma política econômica doméstica que recoloque o país nos trilhos, distraído por questões identitárias superficiais, além de errante e mal aconselhado sobre o papel geopolítico do Brasil nos BRICS+ e no Sul Global multipolar. Nada disso chega como surpresa se considerarmos a profunda infiltração imperial na esquerda brasileira, via ONGs e entidades afins, devidamente financiadas pelo NED, USAID e Fundação Soros. Muitos dos atuais ministros foram de fato catapultados para a vida pública a partir deste ambiente. Outra força relevante neste jogo está aninhada dentro do próprio partido de Lula, o PT. Trata-se dos atlanticistas brasileiros, a sexta coluna nativa, que luta incansavelmente para converter o PT em uma sucursal do Partido Democrata estadunidense. Uma amostra de como os integrantes dessa ala “pensa” pode ser encontrada aqui. Aparentemente, enquanto eu redigia este artigo, o alto-escalão do governo estava produzindo os fatos necessários para corroborar a análise: “Saímos de cima do muro”, diz novo chanceler Mauro Vieira sobre guerra. Chefe do Itamaraty afirma que hoje o país defende a Ucrânia no conflito com a Rússia e garante que o Brasil vai se aproximar da China e dos Estados Unidos (https://veja.abril.com.br/paginas-amarelas/saimos-de-cima-do-muro-diz-novo-chanceler-mauro-vieira/) Sem desmentidos do Itamaraty… Artigo publicado originalmente na Comunidad Saker Latinoamérica
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