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Por um Brasil sem racismo, discriminação e sem essa escandalosa desigualdade. Por Juca Ferreira

3 - 5 minutos de leituraModo Leitura
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O Estadão transformou o resultado dessa mportantíssima pesquisa liderada pela USP sobre o DNA brasileiro em manchete da primeira página: BRASIL É O MAIS MISCIGENADO DO MUNDO.

Essa constatação não é novidade. Desde a primeira metade do século passado já se sabia, estava na cara, na pele no cabelo… dos brasileiros e brasileiras que éramos principalmente mesticos.

O escritor João Ubaldo Ribeiro disse, certa vez, de forma irônica que, na Bahia, o único branco era o cônsul da Suécia.

Temos brasileiros e brasileiras originários de todos cantos do mundo, inclusive os povos originários que já viviam por aqui quando os europeus vieram.

O que varia no Brasil, de região para região, é a predominância e as misturas; preto e branco, indígena e branco, indígena e preto.. e a diversidade feita das múltiplas contribuições para formação do povo brasileiro.

Na Bahia, os negros são predominantes -principalmente no Recôncavo- e, se somarmos os mestiços com os quase totalmente negro, vai para mais de 80%. Quase 90%.

Nos estados amazônicos a predominância é indígena e mesticos com sangue indígena. Se você vai para o sul do país, lá temos brancos europeus em todas as classes sociais, dos mais pobres às camadas mais ricas, dos que se fecharam em suas colônias de imigrantes aos que vivem a aventura brasileira totalmente integrados na coletividade multicolorida. Se você visita o semi-árido nordestino, a maioria tem a pele morena e muitos, os olhos verdes. Cafuzos? Também não podemos ignorar os brasileiros de origem asiática; japoneses, coreanos… nem os que são descendentes dos povos arábes e do Oriente Médio. E os judeus brasileiros.

Longe de termos nos tornado uma terra sem racismo, sem discriminação, o Brasil até hoje não conseguiu superar as profundas desigualdades vinda do período da colonização com escravismo e as narrativas hegemônicas até hoje, sobre o pais, são discriminatórias e minimizam a importância dessa mistura e principalmente a contribuição dos africanos e seus descendentes, dos povos originários e dos que vieram de outras regiões que não a Europa. E, ao contrário, em vez de ver a essa complexidade e a amplitude da escala cromática do nosso povo como uma qualidade, conseguiu a proeza de desenvolver um racismo natural, brasileiro, próprio daqui, que alimenta e estabiliza a desigualdade e que ajuda a manter na miséria e gira das quatro linhas grande parte do povo brasileiro. As periferias das grandes cidades e as populações pobres de despossuídos rurais, não deixa a desigualdade sem ser vista. Essa realidade é tão determinante na vida do povo brasileiro, ao ponto do racismo, da desigualdade e da discriminação, principalmente dos negros e indígenas, ser parte da estrutura social do país. Várias estratégias no decorrer da história do país foram desenvolvidas para tentar branquear o povo brasileiro. No final do século XIX, proibiram a imigração de africanos e estimularam a entrada de colonos europeus.. e quase toda narrativa sobre o Brasil é o ponto de vista dos colonizadores europeus e seus descendentes. Os povos originários são vistos como indolentes e os de origem africana, os negros, são desprovidos de grandeza e como se não tivessem contribuído para construir esse país e como se essa grande nação não tivesse em sua bela e rica identidade cultural a predominância, em quase todas as dimensões, da contribuição africana e dos seus descendentes e dos povos indígenas.

O Brasil precisa enfrentar essa questão com coragem e disposto a enfrentar o racismo. Precisamos lavar a alma brasileira, vencer essas nódoas que apequenam a sociedade brasileira.

O Programa Política da cidadania e as políticas públicas devem atacar as profundas desigualdades e tudo que parece natural e legítimo no arcabouço e na estrutura do país que dá sustentação ao racismo entranhado no corpo social ou na estrutura de sustentação dessa sociedade desigual, uma das mais desiguais do mundo; vai ser preciso cortar na carne da sociedade, ir até esqueleto econômico, social, legal e cultural. O doin antropológico é uma das estratégias necessárias…
O Brasil com direitos e oportunidades iguais não irá cair do céu. Será fruto de muita luta, de muitos enfrentamentos. Uma luta que deverá mobilizar não só os que são vítimas do racismo e da discriminação. Essa é uma luta de todo o povo brasileiro!

De todos os brasileiros e brasileiras. Só não virá atrás quem já morreu, mesmo em vida, intoxicado pelo que há de pior como visão de mundo. 

Juca Ferreira foi ministro da Cultura nos governos Lula e Dilma
                      
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