Aldeia Nagô
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TPM e os limites do feminismo de farmácia por Juliana Cunha

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura
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Minha timeline de hoje derrete-se em elogios a uma capa “irônica” da TPM. A revista lançou uma capa “falsa” em que reproduz as chamadas mais cliches das revistas femininas: aquele tipo de promessa e de cobertura do jornalismo “feminino” que a revista se propõe a evitar.

Ao lado da capa “falsa”, vemos a capa “verdadeira”, com uma chamada clean questionando por que se mente tanto para as mulheres.

Nas duas opções de capa vemos a mesma atriz, Alice Braga, linda, magra feito um palito, com ossos aparentes e tudo. A moça não tem um pelo, uma marca de espinha, uma ponta dupla. Talvez ela seja assim mesmo, sem Photoshop nem nada, mas esse não é o caso de praticamente nenhuma mulher e certamente não é o caso de nenhuma mulher sem dinheiro. O padrão de beleza atual não é passível de ser conquistado apenas com dons genéticos e hábitos de vida razoavelmente saudáveis. É preciso um investimento de tempo e dinheiro cada vez maior já que o objetivo desse padrão não é apenas te fazer chorar no chuveiro, mas essencialmente te fazer encher esse chuveiro de produtos de beleza.

1120121_10151813431359260_921925984_oNa capa “falsa”, Alice Braga aparece num maiô cafona, fazendo pose de blasé e cheia de laquê no cabelo. Na capa “verdadeira”, aparece tranquila e risonha. A mensagem que entendi é que a leitora da TPM quer ser gostosa, mas com shortinho folgado e camiseta podrinha. Ela despreza a mulher que “se esforça demais” para preencher os padrões. Melhor preencher esses padrões naturalmente. Trata-se de uma mera mudança de estilo, de embalagem, não de estilo de vida, muito menos de pensamento.

Em sua tentativa de se diferenciar, a TPM acaba sendo mais mentirosa e opressiva que as outras revistas. Porque as outras pelo menos passam a real de que para fazer o tipo capa de revista o sujeito terá de gastar tubos de dinheiro e comer um alface, trabalhar nos fins de semana e ter dois empregos. A TPM finge que é possível ser linda, bem sucedida e rica mantendo um ar descolado, como se tudo na vida fosse muito fácil. Seremos perfeitas e sem paranoia. Um comportamento estilo bailarina: sofra sorrindo. Seja linda, mas vê se toma um banho rápido e não chateia os amigos com assuntos de dieta.

Quando leio a TPM me sinto tão pobre, feia e incompetente quanto quando leio qualquer outra revista feminina. A revista é cheia de casas maravilhosas de pessoas que nem atingiram os 30 (como pagar por aquele móvel trazido da Tunísia sendo uma “pessoa de humanas”? Tendo uma família rica, é claro.), de gente linda e “desencanada”. Enquanto as outras revistas femininas pregam o empobrecimento e a fome, essa prega a iluminação espiritual.

A TPM esbarra nos limites do feminismo burguês e de farmácia. Uma seção particularmente ilustrativa de suas limitações é aquela em que uma moça é convidada para mostrar seus looks da semana e para dizer o que fez em cada um daqueles dias. São todas jovens e bem sucedidas. A maioria faz questão de se mostrar como uma pessoa que curte a vida, visita os amigos durante a semana, faz passeios. Lá ninguém trabalha o dia inteiro depois se joga deprimido num sofá com Neflix. Trabalhar muito é cafona, disse Nina Lemos, colunista da revista. Claro que é: desde tempos imemoriais ser pobre é cafonérrimo. O problema é que a vida financeira das moças não faz sentido. As profissões que elas dizem possuir não comportam o nível de consumo que elas aparentam ter trabalhando a quantidade de horas que elas alegam trabalhar.

Para ser uma mulher de Nova você precisa trabalhar muito, comer pouco e transar a cada dia numa posição diferente. Para ser uma moça da TPM você basicamente tem que nascer daquele jeito. A questão é: alguém nasce assim?

Artigo publicado originalmente em http://julianacunha.com/blog/2013/08/07/tpm-e-os-limites-do-feminismo-de-farmacia/

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