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Berlim vai a Pequim: a verdadeira história. Por Pepe Escobar
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Dando o que Falar
Qua, 09 de Novembro de 2022 08:35

Pepe_EscobarCom seu inimitável faro para análise econômica carregada de profundidade histórica, o ensaio mais recente do Professor Michael Hudson, originalmente escrito para um público alemão, traz um surpreendente paralelo entre as Cruzadas e a atual "ordem mundial baseada em regras" imposta pelo Hegêmona.

O Professor Hudson relata em detalhes de que forma o Papado de Roma conseguiu estabelecer um controle unipolar sobre as esferas seculares (lembra alguma coisa?) quando a questão era a primazia do Papa sobre os reis, sobretudo os imperadores do Sacro Império Romano-Germânico. Como todos sabemos, meio que de brincadeira, o Império não era exatamente Sacro, nem alemão (talvez um pouco romano), e sequer era um Império.

Uma cláusula das Bulas Papais dava ao Papa autoridade de excomungar quem quer que não estivesse "em paz com a Igreja de Roma". Hudson, muito perspicazmente, observa que as sanções dos Estados Unidos são o equivalente moderno da excomunhão

A primeira seria o Terceiro Concílio Ecumênico de 435, que declarou que apenas Roma (Itálicos meus) tinha autoridade universal (itálicos meus).  Alexandria e Antióquia, por exemplo, tinham apenas autoridade regional dentro do Império Romano.

A outra data importante é 1054 – quando Roma e Constantinopla romperam relações definitivamente. Ou seja, a Igreja Católica Romana separou-se da Ortodoxia, o que nos leva a Rússia e Moscou como sendo a Terceira Roma – e a secular animosidade do "Ocidente" contra a Rússia.

Um estado de lei marcial

O Professor Hudson então examina a viagem da delegação do "Salsichão de Fígado" à China, nesta semana, para "exigir que ela desmonte seu setor público e pare de subsidiar a economia, sob pena de a Alemanha e a Europa imporem sanções ao comércio com a China".

Bem, isso, na verdade, é pura fantasia infantil expressa pelo Conselho Alemão de Relações Externas em uma peça publicada no Financial Times (a plataforma de propriedade japonesa da City de Londres). O Conselho, como Hudson descreveu corretamente, é o braço "neoliberal 'libertário' da OTAN, que exige a desindustrialização da Alemanha, que deve depender" dos Estados Unidos.

O Financial Times, então, como seria de se esperar vem publicando os sonhos molhados da OTAN.

O contexto é essencial. O Presidente Federal da Alemanha,  Frank-Walter Steinmeier, em um discurso proferido no Castelo de Bellevue, praticamente admitiu que Berlim está quebrada: "Uma era de ventos contrários está começando para a Alemanha – anos muito difíceis estão chegando para nós. A Alemanha passa por sua pior crise desde a reunificação".

Mas a esquizofrenia, mais uma vez, reina suprema, e  Steinmeier, em Kiev, depois de entrar de gaiato na palhaçada  de se ter que esconder em um abrigo antiaéreo – anunciou uma esmola extra: mais dois lançadores de múltiplos foguetes MARS e quatro Panzerhaubitze 2000 howitzers a serem entregues aos ucranianos.

Então, mesmo que a economia "mundial" – ou seja, a União Europeia – esteja tão fragilizada que seus estados-membros não consigam mais ajudar Kiev sem prejudicar a suas próprias populações, e que a União Europeia esteja às beiras de uma catastrófica crise energética, "lutar por nossos valores" no país 404 é mais importante que tudo.

O contexto do Grande Quadro também é fundamental. Andrea Zhok, Professor de Filosofia Ética da Universidade de Milão, levou a novas alturas o conceito de "Estado de Exceção" formulado por Giorgio Agamben.

Zhok propõe que o zumbificado coletivo ocidental esteja agora totalmente subjugado por um "Estado de Lei Marcial"  – onde um ethos de Guerras Eternas é a prioridade máxima para as rarefeitas elites globais.

Todas as demais variáveis – do transumanismo à despopulação, e até mesmo a cultura de cancelamento  – estão subordinadas ao Estado de Lei Marcial, e são basicamente secundárias. A única coisa que importa é o exercício do controle bruto e absoluto.

Berlim – Moscou – Pequim

Sólidas fontes empresariais alemãs contradizem frontalmente a "mensagem" trazida pelo Conselho Alemão de Relações Externas durante a viagem à China.

Segundo essas fontes, a caravana Scholz foi a Pequim para, essencialmente, adotar os passos preliminares para o estabelecimento de um acordo de paz com a Rússia, tendo a China como mensageira privilegiada.

O que,  literalmente, geopolítica e geoeconomicamente, não poderia ser mais explosivo. Como apontei em minhas colunas anteriores, Berlim e Moscou vinham mantendo um canal de comunicação secreto – por intermédio de interlocutores empresariais – até o momento em que os suspeitos de sempre, em desespero, decidiram explodir os Nord Streams.

Vide o agora notório SMS mandado do  i-phone de Liz Truss para o Pequeno Tony Blinken, um minuto após as explosões: "Está feito".

E ainda há mais: a caravana Scholz talvez esteja tentando começar um longo e sinuoso processo de, futuramente, vir a substituir os Estados Unidos pela China como principal aliado. Não devemos jamais esquecer que o maior terminal de comércio/conectividade na União Europeia é a Alemanha (no vale do Ruhr).

Segundo uma dessas fontes, "se essa tentativa for bem-sucedida, a Alemanha, a China e a Rússia podem se unir em aliança e expulsar os Estados Unidos da Europa".

Uma outra fonte colocou a cereja no bolo: "Olaf Scholz está acompanhado de industriais alemães, que são quem de fato controla a Alemanha, e não vão ficar passivos assistindo sua própria destruição".

Moscou sabe perfeitamente qual é o objetivo imperial quando se trata de reduzir a União Europeia ao papel de vassalo totalmente subjugado – e desendustrializado– com soberania zero. Os canais secretos, afinal, não jazem destroçados no fundo do Mar Báltico. Além disso, a China não deu qualquer sinal de que seu maciço comércio com Alemanha e União Europeia esteja prestes a desaparecer.

O próprio Scholz, um dia antes de sua caravana chegar a Pequim, declarou à mídia chinesa que a Alemanha não tem qualquer intenção de se desacoplar da China, e nada justifica "a conclamação, por parte de alguns, de isolar a China".

Paralelamente, Xi Jinping e o novo Politburo têm plena consciência da posição do Kremlin, repetidamente afirmada: sempre continuaremos abertos a negociações, contanto que Washington, finalmente, se decida a conversar sobre o fim da ilimitada expansão da OTAN carregada de russofobia.

Esse negociar, então, significa o Império assinar na linha pontilhada o documento que recebeu de Moscou em 1º de dezembro de 2021, focado na "indivisibilidade da segurança". Caso contrário, não haveria nada a ser negociado.

E quando temos o lobista do Pentágono Lloyd "Raytheon" Austin aconselhando publicamente os ucranianos a avançarem sobre Kherson, fica ainda mais claro que não há nada a negociar.

Seria essa a pedra fundamental do corredor geopolítico/geoeconômico transeurasiano Berlim-Moscou-Pequim?  Isso seria o Bye Bye Império. Mais uma vez: não acaba até a que senhora gorda cante o Crepúsculo dos Deuses.

Tradução de Patricia Zimbres

Pepe Escobar é jornalista e correspondente de várias publicações internacionais

Artigo publicado originalmente em Berlim vai a Pequim: a verdadeira história - Pepe Escobar - Brasil 247

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